Título: CORREGEDORIA DA CÂMARA OUVIRÁ DIRCEU E OUTROS 13 ESTA SEMANA
Autor: Cristiane Jungblut, Eliane Oliveira e Janaina F.
Fonte: O Globo, 20/06/2005, O País, p. 3

Depoimento será após a volta do ministro demissionário ao Congresso

BRASÍLIA. Os planos de se defender na planície anunciados pelo ministro demissionário da Casa Civil, José Dirceu, já estão em curso. Esta semana, ele deve prestar depoimento ao corregedor-geral da Câmara dos Deputados, Ciro Nogueira (PP-PI). Também esta semana, a corregedoria ouvirá outros 13 parlamentares sobre o suposto esquema de pagamento de mesada do PT a aliados no Congresso, incluindo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Para Nogueira, saber de fatos graves como o pagamento de mensalão e não torná-los públicos configura crime de omissão.

- Saber disso e não falar é omissão para mim - diz Ciro.

Nenhum dos chamados recusou convite para depor

Dirceu marcou dia e hora de seu depoimento, mas Nogueira não quis informá-los. Só disse que será após o esperado discurso que o petista vai proferir na quarta-feira para marcar sua volta à Câmara. No mesmo dia, o corregedor tomará o depoimento de Jefferson, autor das denúncias. A sessão ocorrerá às 11h, na residência de Jefferson, a pedido do depoente.

A iniciativa de convidar Dirceu e os demais parlamentares para depor foi do próprio corregedor, que não tem poder de convocação. Segundo ele, nenhum dos convidados se recusou. Poderá haver acareação posterior entre depoentes, caso sejam detectadas incompatibilidades entre as versões.

Nogueira considerou graves as acusações de que o assessor direto do deputado José Janene (PP-PR), João Cláudio Carvalho Genu, seria o responsável pela distribuição do chamado mensalão à bancada do partido.

- Ele (Genu) vai ter que explicar tudo - disse.

Janene é um dos que prestarão depoimento à corregedoria. O deputado Miro Teixeira (PT-RJ), que admitiu ao "Jornal do Brasil" conhecer o esquema de pagamento de mesada a aliados no Congresso, mas depois negou, também deverá se explicar. Hoje ele diz que sabia do assunto, mas recusa-se a dar mais detalhes.

Oposição prepara armas para a volta de Dirceu

A oposição está montando sua estratégia para receber Dirceu. A ordem no PFL é não dar trégua ao ministro demissionário e tirar dele o máximo possível no depoimento, na tentativa de torná-lo réu na CPI dos Correios. O PSDB promete firmeza na cobrança de explicações a Dirceu e a orientação é que todas as denúncias sejam exaustivamente investigadas.

O Conselho de Ética também terá uma semana de audiências abertas ao público, onde serão ouvidos os dez parlamentares citados por Jefferson no depoimento à CPI dos Correios. A lista bate, em boa parte, com a da corregedoria: além de Janene e Miro, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, José Múcio, líder do PTB, e a deputada Raquel Nogueira (PSDB-GO), que teria recebido oferta de R$1 milhão para mudar de partido.

Mas o alvo será mesmo Dirceu. Um convite para que ele deponha também neste fórum será decidido pelo Conselho de Ética amanhã.

- Não dá para dizer que ele volta na condição de réu. Mas também não será o grande líder que vai ditar as regras. Quando Dirceu pisar no Congresso, terá que encarar a vida real - disse o vice-líder do PFL, ACM Neto (BA).

Depois dos parlamentares, o Conselho de Ética ouvirá membros da direção nacional do PT: o tesoureiro Delúbio Soares, o secretário-geral Silvio Pereira e o secretário de Comunicação, Marcelo Sereno. A CPI dos Correios retoma os trabalhos na terça, quando, às 18h, será ouvido o ex-chefe do Departamento de Administração da estatal, Maurício Marinho, flagrado em vídeo recebendo R$3 mil em propina.

Legenda da foto: JOSÉ DIRCEU ao anunciar sua saída: semana cheia de depoimentos