Título: Reforma em dois tempos
Autor: Cristiane Jungblut, Eliane Oliveira e Janaina F.
Fonte: O Globo, 20/06/2005, O País, p. 3

Lula avisa a aliados que primeiro cuidará da Casa Civil, depois das outras mudanças no Ministério

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou aos aliados que fará a reforma ministerial em dois tempos. Lula deverá anunciar hoje, ou no máximo amanhã, o novo chefe da Casa Civil, em substituição a José Dirceu, que reassume na quarta-feira sua vaga de deputado federal. Ontem, o presidente desembarcou em Assunção para a reunião de cúpula do Mercosul em companhia da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que foi convidada por ele para assumir a Casa Civil. Apenas quando o problema do substituto de Dirceu for solucionado Lula decidirá outras mudanças, em conversas principalmente com o PMDB.

O governo estuda mandar de volta à Câmara ministros com mandato de deputado - Ricardo Berzoini (Trabalho), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) - para reorganizar a base governista e reforçar a defesa do Planalto. Isso ficaria para a segunda etapa da reforma.

Mas até para escolher o novo chefe da Casa Civil, Lula está precisando enfrentar as divergências no PT. Nesse momento de crise para o governo e para o partido, petistas resistiam ontem à escolha de Dilma e ainda tentavam convencer o presidente a mudar de idéia. Sabendo disso, Dilma chegou a dizer a Lula que não gostaria de mudar de pasta. Ao desembarcar em Assunção, ela manteve o mistério:

- Só vou falar quando tiver uma posição bem estabelecida a esse respeito. Portanto, não pretendo fazer qualquer cometário durante a visita ao Paraguai - disse Dilma, que volta ao Brasil hoje à tarde.

No PT, alguns insistiam em uma opção que não esvaziasse a Casa Civil politicamente. Lula chegou a pensar no ministro Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Até o ministro Tarso Genro, da Educação, foi sugerido por petistas.

Apesar das pressões de aliados e ministros, Lula continuaria decidido a adotar um perfil técnico para a Casa Civil. O presidente combinou de conversar com Dilma durante a viagem ao Paraguai. No vôo de São Paulo para Assunção, eles não tiveram um encontro reservado, segundo outros passageiros. O presidente reuniu a bordo os ministros Celso Amorim (Relações) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia.

- É muito provável que seja a Dilma. Mas o presidente combinou de conversar com ela de forma decisiva no Paraguai para acertar tudo - disse um interlocutor de Lula.

- O único comentário que posso fazer, mas não posso, é que ela já foi convidada - disse o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia.

Se aceitar a Casa Civil, Dilma terá de contornar essas pressões. Alguns ministros e interlocutores alertaram o presidente de que o cargo cuida de projetos e medidas provisórias e que isso exige uma certa flexibilidade para negociar com o Congresso. A ministra é respeitada por Lula por sua capacidade de gerenciamento. Mas ela é muito criticada por parlamentares, principalmente do PMDB, por sua falta de habilidade para negociar.

- Dilma é uma excelente ministra e uma pessoa séria, mas não tem vida partidária nem relacionamento com o partido - disse um dirigente petista.

Caso a ida de Dilma se consolide, o Ministério de Minas e Energia pode ser ocupado pelo PMDB, aumentando assim o espaço do partido como Lula deseja. Se não houver acerto com o PMDB, o substituto de Dilma seria Maurício Tolmasquim, secretário-executivo da pasta até dois meses atrás.

No fim de semana, Lula avisou à cúpula do PMDB que ela será chamada para discutir qualquer mudança no Ministério, mas que agora o objetivo era resolver a questão da Casa Civil.

Se o PMDB ficar com a pasta de Minas e Energia, o ministro poderia ser indicado até pela ala oposicionista, liderada hoje pelo presidente do partido, Michel Temer, e pelo ex-governador Orestes Quércia. Outra possibilidade seria indicar um nome do senador José Sarney, como o do presidente da Eletrobras, Silas Rondeau. Ele conhece o setor e teria o aval de Dilma.

- Lula disse ao PMDB que nos chamará institucionalmente - afirmou um alto dirigente do PMDB.

Legenda da foto: LULA SE reúne em Assunção com os presidentes Nicanor Duarte, Vazquez e Kirchner