Título: SAÍDA DE DIRCEU AGRADA AOS DIPLOMATAS
Autor: Isabela Bastos
Fonte: O Globo, 20/06/2005, O País, p. 5

Ministro teria relação conflituosa com Marco Aurélio Garcia

ASSUNÇÃO. A saída de José Dirceu da Casa Civil está sendo vista com certo alívio pelos responsáveis pela política externa do governo brasileiro. Segundo uma fonte, a impressão que se tinha era que Dirceu, ao ver fracassar o projeto que tinha de coordenação política, passou a tatear em busca de novas atividades, trombando com alguns integrantes do governo em temas internacionais. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

Junto com o chanceler Celso Amorim, Garcia é o grande articulador da política externa do presidente Lula. No fim de 2002, antes mesmo da posse de Lula, Garcia foi à Venezuela, num momento de grave crise naquele país, e conseguiu costurar, com sucesso, a criação do Grupo de Amigos, que conquistou credibilidade do governo e da oposição venezuelanos. Ele também teve participação importante na resolução das recentes crises no Equador e na Bolívia. No entanto, em algumas viagens, como a que fez a Montevidéu, no Uruguai, acabou perdendo espaço para o ex-ministro da Casa Civil, num encontro de representantes de partidos socialistas.

- Era como se Dirceu fosse o supremo chefe de Garcia que, ao contrário de ocasiões anteriores, parecia um peixe fora d'água - disse um diplomata.

A ida de Dirceu à Venezuela, um dia antes de desembarcar em Brasília a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, também ficou marcada, desta vez no Itamaraty. Atônito, o Ministério das Relações Exteriores näo sabia o que responder, quando telefonavam pedindo informações sobre a agenda de Dirceu. Na época, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, disparava rotineiramente duras críticas aos EUA. Só depois ficou claro que a ida de Dirceu a Caracas tinha o objetivo de preparar o encontro de semanas depois entre Chávez, Lula e o presidente argentino, Néstor Kirchner.

Área diplomática gosta da idéia de Dilma na Casa Civil

Se a saída de Dirceu foi festejada com discrição pela área diplomática, a possibilidade de a ministra Dilma Rousseff assumir o comando da Casa Civil é vista com bons olhos. Dilma tem se mostrado uma importante aliada na busca de resoluções para os gargalos no abastecimento de gás e energia na América do Sul, por exemplo.

Antes mesmo de surgirem os rumores de que foi convidada por Lula para a Casa Civil, a ministra já estava na lista de autoridades que poderiam acompanhar o presidente a Assunção, devido ao projeto de interligação de gasodutos que envolve Brasil, Peru, Chile, Argentina, Bolívia e Uruguai e será apresentado na cúpula.

- É uma executiva de primeira que, certamente, não se desligará facilmente das questões com que lidava no Minas e Energia. A ministra é uma das responsáveis por avanços obtidos no Mercosul, como o compartilhamento de energia com a Argentina e a busca incansável por soluções na questão do gás boliviano - disse uma fonte do governo brasileiro.