Título: EM BUSCA DE GÁS
Autor: George Vidor
Fonte: O Globo, 20/06/2005, Economia, p. 16

Duas questões em torno do gás natural: tudo indica que há no BS-500 (Bacia de Santos, no litoral em frente ao Rio) muito mais reservas do que as já mensuradas no Campo de Mexilhão; a cidade de Brasiléia, no Acre, fica a 300 quilômetros do campo de Camisea, no Peru, e poderia no futuro se tornar uma rota alternativa para o mercado brasileiro e os demais países do Cone Sul.

O BS-500 se mostrou um campo promissor com a perfuração de apenas um poço descobridor, em 2002. Mas o campo fica em águas profundas (1.500 metros abaixo da superfície do mar) e sua exploração custa muito caro. Outros poços precisam ser perfurados para que se possa efetivamente delimitar a capacidade do BS-500. Novas tecnologias também terão de ser utilizadas para a sua produção. No entanto, alguns especialistas acham que as condições ali são mais favoráveis do que as de Mexilhão - cujas reservas comerciais seriam, na verdade, equivalentes à metade do que tem sido propagado.

Quanto à rota alternativa para o gás natural de Camisea (Peru), um estudo foi apresentado em 1997 pela Odebrecht à Shell, que acabou se desinteressando pelo investimento. O atrativo dessa rota está na proximidade com o Acre, região que é abastecida pela Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Rio, situada a milhares de quilômetros. Do Acre, esse gasoduto poderia se interligar com o que será construído de Urucu a Porto Velho (Rondônia). De Porto Velho a Goiânia seriam mais 1.750 quilômetros.

As distâncias são grandes, mas também na rota pelo Chile o gás de Camisea precisará atravessar mais de 1.200 quilômetros, passando por um parque nacional e outras áreas de preservação ambiental. Nas duas hipóteses, há dificuldades e muitos desafios a vencer.

Todas as razões para se concluir a usina nuclear Angra 3 se tornaram evidentes em apenas uma semana. A queda de várias torres que sustentam as linhas de transmissão da energia de Itaipu mostra que se os centros de consumo ficarem distantes das fontes de geração o risco de acidentes e interrupção do fornecimento aumentam significativamente. E a opção por usinas térmicas a gás também deixou de ser confiável enquanto o Brasil ficar dependente do suprimento da Bolívia.

O Brasil hoje domina a tecnologia de construção e operação de usinas nucleares (Angra 2 é considerada a décima quarta usina de melhor desempenho entre as 400 e tantas existentes no mundo) e já investiu um dinheirão em Angra 3. Os argumentos contra a conclusão da usina, apresentados pelo Ministério das Minas e Energia, são questionados pelos especialistas do setor, pois os cálculos parecem ter sido feitos a partir da premissa inicial de que se trata de um empreendimento economicamente inviável.

Por causa dos problemas nas linhas de Itaipu, Angra 1 e Angra 2 funcionaram a plena carga nos últimos dias.

A Light tem a receber mais de R$400 milhões de concessionárias de serviços públicos e prefeituras do Vale do Paraíba. No caso da Cedae, a empresa fez um acordo com o governo estadual, pelo qual a dívida será ressarcida com o pagamento de ICMS (a Light é a segunda maior contribuinte do Rio).

Mas em relação à SuperVia, grupo privado que opera os trens urbanos, não há entendimento algum. A concessionária reivindica uma tarifa especial de energia, e enquanto o impasse não se resolve, a dívida cresce.

Até o fim deste ano, as empresas de telefonia fixa terão de atender a todas as localidades com mais de 300 habitantes. A meta anterior foi cumprida, atendendo às localidades com 600 ou mais habitantes.

O objetivo de universalizar é nobre e está previsto no contrato de concessão assinado na época na privatização. No entanto, vem tendo pouco sentido prático.

Na área da Telemar, por exemplo, somente cinco mil das 55 mil linhas oferecidas pela companhia nas localidades com 600 habitantes estão hoje em operação. A renda média é baixa nesses vilarejos e as pessoas não têm como pagar a conta. Então o investimento por linha telefônica em operação nessas localidades acabou saindo por US$30 mil.

No caso de condomínios de classe média alta isolados de grandes centros, a Anatel (agência reguladora) não precisou ficar em cima das concessionárias, pois elas mesmas saíram em busca desses clientes.

Até dezembro a Telemar terá de instalar telefones em quase cinco mil localidades que tenham entre 300 e 600 habitantes, a maior parte na Bahia e em Minas Gerais. Serão investidos US$150 milhões e estima-se que nem mil linhas entrarão em operação.

Está começando a faltar engenheiros de petróleo no mundo. A idade média da classe está em 49 anos, porque nos Estados Unidos e na Europa a profissão não vem atraindo os jovens, que consideram a indústria cíclica demais - quando o preço do óleo sobe tudo fica às mil maravilhas, mas quando cai...

No Brasil ainda há poucas escolas formando engenheiros de petróleo. Na última semana, representantes da Society of Petroleum Engineers, que tem 60 mil sócios espalhados pelo mundo, peregrinaram por várias universidades brasileiras fazendo trabalho de catequese. A entidade promove hoje um minicongresso no Rio.

Luz no fim do túnel: as autoridades, e muita gente do mercado, começam a se convencer de que o Brasil não pode mesmo com taxas de juros anormais para todo o sempre.

Para quebrar o círculo vicioso, está sobre a mesa a proposta de se eliminar totalmente o déficit público, ainda que paulatinamente, com metas intermediárias.

Vale a pena tentar.