Título: LULA ADMITE QUE DEMOROU A AGIR
Autor: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 21/06/2005, O País, p. 3

Presidente reconhece que seu governo perdeu encanto e brilho

ASSUNÇÃO. A crise que atingiu em cheio o PT e o governo nas últimas semanas deixou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abatido. Em conversas com auxiliares e amigos no último fim de semana, entre São Bernardo do Campo e Assunção, no Paraguai, o presidente reconheceu que demorou para reagir às denúncias de corrupção. Comentou que, com a crise, o seu governo perdeu o encanto e que precisa urgentemente fazer alguma coisa para retomar o brilho, que ultrapassava as fronteiras do país.

No curto período em que ficou na capital do Paraguai, pouco mais de 12 horas, o presidente não conseguia disfarçar sua angústia com os problemas internos do Brasil. Era visível a impaciência com o cerimonial da Reunião do Mercosul e Países Associados (Comunidade Andina e Chile). O presidente antecipou a volta ao Brasil em quase três horas, ontem à tarde. Segundo integrantes da comitiva presidencial, Lula estava ansioso para voltar a Brasília.

- Ele só pensa em como dar a volta por cima - comentou uma fonte do governo.

Nestas conversas, o presidente e seus interlocutores analisaram o risco, ainda que distante, de Lula perder "seu brilho", que o destaca na América do Sul. Nos países da região, as políticas econômicas são semelhantes e os chefes de Estado, por mais polêmicos que possam ser, têm estilos próprios de governar e conseguem bons níveis de popularidade.

Lula é visto como o líder sul-americano. Foram citados Hugo Chávez, da Venezuela, considerado símbolo antiamericano, Néstor Kirchner, da Argentina, que despertou um sentimento patriótico entre os argentinos, e Ricardo Lagos, do Chile, visto como um político equilibrado.

Outro dilema de Lula é quem fica no lugar de Dilma Rousseff. A angústia do presidente é ter que negociar uma vaga tão estratégica com o PMDB. Ele já avisou que não abrirá mão da Petrobras. O atual presidente da estatal, José Eduardo Dutra, foi uma escolha pessoal e se manterá no cargo até a hora de ir disputar uma vaga de senador pelo PT de Alagoas.

Na volta do jantar que teve na noite de domingo, indagado se já havia se decidido sobre a reforma ministerial, o presidente respondeu:

- Vou resolver isto no momento certo.

Legenda da foto: LULA: o presidente estaria abatido