Título: DA GUERRILHA AO PLANALTO
Autor: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 21/06/2005, O País, p. 3

Dilma foi presa e torturada na ditadura

BRASÍLIA. Guerrilheira nos anos 70, na luta contra a ditadura, a ministra Dilma Rousseff assume um dos postos-chave do Planalto no pior momento do governo Lula. Para escolher a substituta do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter levado em conta o conhecido temperamento forte da ministra, uma mineira de sobrenome búlgaro. Conhecida como a "dama de ferro" do governo, Dilma é exigente e cobra resultados. A caminho de uma reunião em Washington, a bordo de um avião, deixou a primeira classe, caminhou até a econômica, reclamou de um relatório estava ruim e fez assessores virarem noite refazendo o documento.

E isso porque a experiência de 22 dias de tortura e de três anos na cadeia durante a ditadura - segundo a própria Dilma, em depoimento ao projeto Brasil Nunca Mais - deixou-a mais tolerante. Sua fama, no entanto, é a de uma negociadora intransigente, que privilegia o ponto de vista técnico.

A ministra ganhou a confiança de Lula, mas colecionou problemas políticos por causa de indicações para cargos nas estatais. Um exemplo é o recém-nomeado diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Vítor Martins. Dilma contestou o presidente. Numa solenidade em Vitória, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, perguntou se estava tudo em ordem para a indicação de Martins.

- Tudo certo, não é, Dilma? - perguntou o presidente.

- Não está, não - bancou Dilma, mas sem sucesso.

Diplomada em economia, com doutorado em economia monetária e financeira, Dilma fez carreira no Rio Grande do Sul, para onde se mudou em 1974. Chegou ao governo Lula após a experiência como secretária de Energia no governo gaúcho, que enfrentou com sucesso o racionamento durante o apagão de 2001. Em 2002, foi uma das coordenadoras da transição.

Começou a militância no grupo Política Operária (Polop), com seu primeiro marido, Claudio Galeno de Magalhães Linhares. Ambos ingressaram no Comando de Libertação Nacional (Colina), que se fundiu à Vanguarda Popular Revolucionária e deu origem à VAR-Palmares. Viveu anos na clandestinidade, com os codinomes Estela, Luiza, Patrícia e Wanda. Em 1969, ajudou a articular o cofre do governador paulista Adhemar de Barros. Foram tirados US$2,5 milhões. Foi presa em 16 de janeiro de 1970. Era chamada de "Joana d'Arc da guerrilha" e "papisa da subversão".

Foi casada com o gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, ex-guerrilheiro. Tiveram uma filha, Paula, e separaram-se há poucos anos. Foi seguidora de Leonel Brizola até romper com o PDT em 2001.

Legenda da foto: DILMA, nos anos 80: a "papisa da subversão" tem fama de negociadora inflexível