Título: Lula confirma e Dilma assume hoje a Casa Civil
Autor: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 21/06/2005, O País, p. 3

Primeira mulher a ocupar o cargo no país, ela resistiu a substituir Dirceu mas foi convencida

Depois de uma conversa definitiva no vôo de Assunção para Brasília, no início da tarde de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou à noite a ministra Dilma Rousseff como a nova chefe da Casa Civil, no lugar de José Dirceu. É a primeira mulher a ocupar este cargo. Lula convenceu a ministra de que era fundamental para o governo, principalmente neste momento, mudar a função da Casa Civil, adotando um perfil técnico. Dilma será uma "gerentona" no comando da pasta ocupada até ontem pelo ex-todo-poderoso José Dirceu. Seu nome foi oficializado apesar das resistências dentro do governo, do PT e entre partidos da base aliada.

Dilma tomará posse hoje, às 16h, segundo o porta-voz da Presidência, André Singer. Lula estava sendo convencido ontem à noite da necessidade de manter outro ministro com perfil político dentro do Planalto, como contraponto ao novo modelo da Casa Civil. O presidente cogitou extinguir o Ministério da Coordenação Política, hoje ocupado por Aldo Rebelo (PCdoB), mas foi pressionado nos últimos dias a manter a função para garantir mais diálogo com parlamentares, prefeitos e governadores, principalmente neste momento de crise.

Essa proposta foi discutida em reuniões com a própria Dilma e os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), além do prefeito de Aracaju, Marcelo Déda (PT). Os dois últimos foram lembrados por Lula para a Casa Civil, num primeiro momento. Dirceu evitou maiores comentários sobre a nova pasta:

- Não sou mais ministro. Vou pecorrer o Brasil e mobilizar o partido. Não tenho mais nada o que falar.

No início da noite, o presidente chamou Déda e Jaques Wagner para uma conversa sobre a Coordenação Política. Aldo Rebelo deve mesmo voltar à Câmara. O presidente comentou que Déda seria o nome ideal para a Coordenação Política justamente por já ter sido líder do PT e ter bom trânsito com a oposição e com as diferentes correntes dentro do PT.

- Não fui convidado. Seria cabotinismo comentar algo que não foi cogitado pelo presidente - disse Déda, antes do encontro com Lula e depois de uma conversa com Aldo Rebelo.

Críticas fazem Lula antecipar nomeação

Outra opção do presidente é fazer com que Jaques Wagner acumule as funções de ministro da Coordenação Política e de secretário do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. A definição sobre a Coordenação Política pode sair hoje.

- Tanto eu como Déda somos cogitados pelo partido a disputar governos estaduais em 2006. Aceitar um novo cargo no governo significaria reavaliar os planos regionais - disse Wagner, candidato ao governo baiano.

A reforma ministerial será mesmo em duas etapas. Resolvida a Casa Civil, Lula irá decidir as demais mudanças, principalmente em conversas com o PMDB. Ele não quer resolver os demais ministérios sem conversar com o PMDB, em particular com o senador José Sarney (AP). A idéia é ampliar o espaço do partido e, para isso, não abre mão de conversar ainda com o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL); o deputado Michel Temer (SP); e o ex-governador Orestes Quércia (SP).

A confirmação do nome de Dilma Roussef seria feita hoje, mas foi antecipada para evitar desgaste prévio da ministra, que vinha sendo criticada por petistas e aliados devido ao seu temperamento forte e sua pouca disposição para relações com o Congresso. A ministros e assessores que resistiam, Lula argumentou que ela reúne qualidades como boa gestora, perfil ético. E ressaltou o fato de ser a primeira mulher a assumir um cargo desse porte no país. Na avaliação de Lula, isso ajudaria a blindar o Planalto em momento de crise política.

Atual ministra de Minas e Energia, Dilma vinha resistindo a assumir o cargo e disse isso a Lula várias vezes. Foi sondada pela primeira vez na quinta-feira e foi convencida numa conversa durante o vôo de volta de Assunção, onde Lula participou de reunião do Mercosul e de onde voltou antes justamente para definir a questão da Casa Civil. Antes do anúncio do nome, Lula teve uma última conversa com José Dirceu, que reassume amanhã sua vaga na Câmara.

- O vôo foi muito bom. Eles conversaram reservadamente e o presidente chamou a todos para um almoço. O presidente não abria mão de um perfil técnico na Casa Civil - disse um interlocutor de Lula.

No Ministério de Minas e Energia, Dilma será substituída interinamente pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim.

Mas o plano de Lula é dar a pasta de Minas e Energia para o PMDB de Sarney. Por isso, o nome mais cotado é o do presidente da Eletrobras, Silas Rondeau. Sua escolha seria uma forma de prestigiar o senador depois que fracassou a tentativa de nomear sua filha Roseana Sarney (PFL-MA) como ministra na reforma anterior.

- O presidente convidou a ministra Dilma para ocupar o cargo de ministra-chefe da Casa Civil. E, tendo a ministra aceito o convite, a cerimônia será amanhã (hoje) - disse Singer, no início da noite de ontem.

COLABOROU: Monica Tavares

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Legenda da foto: DILMA: uma "gerentona" para dar à Casa Civil perfil eminentemente técnico