Título: REFORMA POLÍTICA
Autor:
Fonte: O Globo, 21/06/2005, Opinião, p. 6

CPI dos Correios se inicia na prática hoje, com o depoimento de Maurício Marinho, flagrado ao embolsar um maço de dinheiro enquanto explicava como o PTB de Roberto Jefferson havia montado um esquema, do qual ele fazia parte, com a finalidade de desviar comissões de contratos assinados pela estatal para o caixa dois do partido. Essa teia de ordenha criminosa de dinheiro público é uma parte do escândalo que atormenta o PT. A outra refere-se ao mensalão, distribuído entre políticos aliados pelo tesoureiro petista, Delúbio Soares, com o conhecimento do presidente do partido, José Genoino, e do ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, segundo denúncia de Jefferson.

Se é ou não fantasioso esse esquema, que as investigações esclareçam. Afastado um dos focos da crise, José Dirceu, o governo Lula precisa retomar a iniciativa e atuar no Congresso. O natural estado de perplexidade causado pela eclosão da crise paralisou o Executivo e o Legislativo, mas é hora de sair da letargia.

Há vários projetos importantes a votar no Congresso. Como o da reforma política, com a qual se comprometeu o presidente tão logo o escândalo veio à tona. Hoje, é possível que o tema avance na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e supere o último estágio na tramitação na Casa antes de ir a plenário.

O desafio é evitar a desidratação do projeto no Congresso, onde se conspira contra a verticalização das chapas - que têm de reproduzir a composição nacional nas eleições regionais, fortalecendo os partidos - e contra a cláusula de barreira, essencial para reduzir a proliferação de legendas, uma das causas das dificuldades de os governos obterem maiorias estáveis no Legislativo.

Mais ainda agora, com a mudança de estilo na Casa Civil, sob Dilma Rousseff, o presidente precisa participar ativamente das articulações políticas para viabilizar a reforma e outros projetos. Mesmo que tenha de ser fatiada e aprovada para entrar em vigor por fases, ela é essencial para moralizar a vida política. Porém, se o que vier a ser aprovado for uma caricatura de reforma, cenas como a de corrupção explícita protagonizada por Maurício Marinho, a existência de caixas dois em partidos e o loteamento da máquina pública continuarão a subverter a vontade do eleitor e a saquear o contribuinte.

É necessário o presidente atuar na defesa do projeto