Título: MARINHO: 'CADA DIRETORIA TEM UM PARTIDO ATRÁS'
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Fonte: O Globo, 22/06/2005, O País, p. 8

Relator da CPI dos Correios pedirá quebra de sigilo telefônico de três personagens do escândalo

BRASÍLIA. Ao depor ontem na CPI dos Correios, o ex-chefe de contratações da estatal, Maurício Marinho, atribuiu ao PT e ao secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, a responsabilidade pelas duas diretorias dos Correios que têm os maiores orçamentos da empresa. Ele negou fazer parte de um esquema de arrecadação para o PTB. Admitiu, entretanto, que recebeu os R$3 mil e que falou demais, interessado num futuro negócio que seus interlocutores, que se apresentaram como empresários, poderiam lhe oferecer.

Segundo Marinho, ele receberia R$15 mil por uma consultoria para os falsos empresários. Marinho disse que, se existe corrupção nos Correios, o responsável não é ele. Disse que a diretoria à qual estava subordinado foi indicada pelo PTB, que a presidência dos Correios era do PMDB e que as diretorias de Operações e Tecnologia, cujos contratos estão sob suspeita, foram indicadas pelo PT.

'Estou sendo colocadocomo bode expiatório'

- Existem problemas? Quem é, todo mundo sabe. Só tem dois diretores que de carreira, os de Tecnologia e Operações. Estou sendo colocado como bode expiatório. Cada diretoria tem um partido político por trás. Dos dois diretores das empresas (das áreas que têm o maior orçamento) quem está por trás é o PT, é o senhor Sílvio Pereira - afirmou Marinho.

Marinho citou outros políticos como responsáveis pelas indicações nos Correios. Segundo ele, o ex-presidente João Henrique foi indicado pelo presidente do PMDB, Michel Temer; o diretor financeiro foi indicado pelo mesmo partido; o diretor comercial pelo senador Hélio Costa (PMDB-MG) e o de Recursos Humanos pelo senador Ney Suassuna (PMDB-PB).

Marinho disse que foi alvo de uma gravação criminosa e sem validade jurídica, um trabalho feito por arapongas e que teria demorado 45 dias.

- Não sou bandido em nenhum grau. Em 1h54m (de gravação), em nenhum momento pedi propina. Não sou corrupto. Sei onde errei. Sei que falei demais, sei que envolvi pessoas. Trabalhei fora do horário e recebi o dinheiro que não pedi - afirmou Marinho.

O depoimento de Marinho começou depois de meia hora de discussão entre os deputados se ele deveria prestar depoimento na condição de testemunha ou investigado. Como testemunha, Marinho não poderia mentir, sob pena de ser preso. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), porém, depois de ouvir os deputados, decidiu que Marinho não prestaria o juramento de falar a verdade.

Marinho confirmou que o ex-agente do SNI José Fortuna Neves, acusado de ter participado do esquema que o gravou, lhe ajudou a ser indicado para a área de recursos humanos dos Correios, por ter boas relações com o PTB. Marinho confirmou ter tido encontros com o corretor de seguros Henrique Brandão e com o genro do ex-presidente do PTB, Roberto Jefferson, Marcus Vinícius Ferreira. Contou que Fortuna lhe apresentou ao deputado José Chaves (PTB-PE), que encaminhou seu currículo ao ex-diretor de Administração Antônio Osório.

O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), deve pedir a quebra do sigilo telefônico de três personagens envolvidos no escândalo de corrupção na estatal. Com base nos documentos fornecidos pela Polícia Federal à CPI, Serraglio e os assessores da comissão encontraram ligações entre Marinho, o genro de Jefferson e Fortuna.

Jefferson foi convocado a depor no próximo dia 29. Deverão depor também o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, o publicitário Marcos Valério de Souza, e Fernanda Karina Somaggio, sua ex-secretária.

Legenda da foto: MAURÍCIO MARINHO, acusado de cobrar propina nos Correios, na CPI