Título: STÉDILE MINIMIZA O ESCÂNDALO: 'ISSO AQUI NÃO É UM COLÉGIO DE FREIRAS'
Autor:
Fonte: O Globo, 22/06/2005, O País, p. 8

Líder dos Movimento dos Sem Terra diz não acreditar no 'mensalão'

BRASÍLIA. Líderes de movimentos sociais saíram ontem em defesa do governo Lula, criticando a tentativa de desestabilização política que estaria sendo provocada pelos "setores conservadores e antidemocráticos". O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, e o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, disseram não acreditar na existência do mensalão. Stédile chamou de "denunciazinhas" e "forçação de barra" as acusações feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que o PT pagaria R$30 mil a deputados do PP e do PL em troca de apoio no Congresso.

- Isso aqui não é um colégio de freiras que descobriu que alguém roubou uma fruta no quintal, (e) então vamos expulsar a freirinha que roubou a fruta do quintal. Aqui tem que mudar as regras do convento, se não continua tudo igual - disse.

Stédile defendeu que o governo faça a reforma política, mude a política econômica e tire do governo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Previdência, Romero Jucá, alvos de investigação do Ministério Público Federal. A recomendação foi outra, porém, no caso do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, acusados de envolvimento no pagamento do mensalão. Para Stédile, o afastamento dos dirigentes é assunto interno do PT.

Stédile afirmou que é hora de "transformar o limão em limonada" e propôs que Lula busque apoio nos trabalhadores e movimentos sociais, não apenas no Congresso.

- O Congresso não representa a sociedade, não é a única forma de a sociedade expressar o seu poder.

Movimentos sociais lançam carta de apoio a Lula

Stédile e Marinho disseram que um sistema de pagamento de deputados como o mensalão exigiria uma logística inviável.

- Imagina 200 deputados, todos os meses recebendo R$15 mil, como foi denunciado. Tem que ter um carro-forte todo final de mês na frente do Congresso. Estamos preocupados não é com essas denunciazinhas a fim de criar factóide na imprensa - disse Stédile.

Os movimentos sociais lançaram, ontem, a Carta ao Povo Brasileiro, que prega a "contínua mobilização" contra tentativas de desestabilizar o governo e defende a apuração de denúncias. A carta é assinada por 42 entidades, mas uma delas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nega que tenha endossado o documento.

- Foi um erro (incluir a assinatura). Deixamos claro que estávamos elaborando outro texto, que será divulgado nos próximos dias no Conselho de Bispos - disse a irmã Dulce Delci, assessora da Coordenação de Pastorais Sociais da CNBB.

Legenda da foto: STÉDILE: "O afastamento dos dirigentes é assunto interno do PT"