Título: Ex-secretária confirma malas de dinheiro
Autor:
Fonte: O Globo, 22/06/2005, O País, p. 8

Ao 'Jornal Nacional', mulher que trabalhou para o publicitário Marcos Valério diz ter recuado na PF porque foi ameaçada

RIO e BRASÍLIA. Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, confirmou ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, as denúncias contra integrantes do governo e do PT e as ampliou, dizendo que seu ex-patrão, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB) de ser o homem que levou malas de dinheiro para o PTB, conversou algumas vezes com o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, e que falava quase diariamente com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e com o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira.

- Confirmo que vi várias negociações na agência entre o senhor Marcos (Valério), o senhor Delúbio (Soares) e o senhor Sílvio Pereira - disse ela ao "Jornal Nacional". Ela confirmou ontem as informações que negara em depoimento à Polícia Federal sobre o papel do publicitário no suposto esquema do mensalão. Fernanda Karina disse que, por ter sido ameaçada por um motociclista na rua, depois de publicada sua denúncia na "IstoÉ Dinheiro", teve medo e recuou. Por orientação de seu novo advogado, disse ontem, resolveu confirmar o que dissera à revista.

Fernanda Karina disse que Marcos Valério, antes de se reunir com Delúbio e Sílvio Pereira, pegava dinheiro no departamento financeiro da agência SMP&B, da qual ele é sócio.

- Quando ele (Marcos Valério) saía para as reuniões, antes de sair ele passava no andar de baixo, no departamento financeiro, e saía com a mala. Eu acredito que tinha dinheiro (na mala). (Ele levava para reuniões) Com o pessoal do PT. Eu sabia que o dinheiro ia para Brasília, e eles distribuíam lá, mas para quem, quando e onde, ele não falava. Era entre eles.

Perguntada se achava que o dinheiro se destinava ao pagamento do mensalão, Fernanda Karina disse achar que sim.

- E quem faria essa entrega do dinheiro? - perguntou o repórter do "Jornal Nacional".

- O senhor Delúbio.

A ex-secretária reafirmou o que dissera sobre o uso de avião do Banco Rural por parte de Delúbio. Contou que o publicitário mantinha contato com o então chefe da Casa Civil, José Dirceu. Segundo ela, os encontros com a cúpula do PT eram em hotéis em Brasília e em São Paulo, e que o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) também se encontrava com Valério. E reafirmou a relação do publicitário com o ex-ministro Pimenta da Veiga (governo Fernando Henrique) e com o irmão do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto (governo Lula).

Proteção paraa ex-secretária

A agência SMP&B negou as acusações. Marcos Valério informou que só se manifestará em juízo. A assessoria de Anderson Adauto informou que a agência do publicitário fez um planejamento para a campanha dele à Prefeitura de Uberaba e que seu irmão esteve na agência para discutir o projeto. Já Pimenta Veiga informou que prestou serviço à SMP&B um ano depois de ter deixado o Ministério das Comunicações. Delúbio Soares e Sílvio Pereira não comentaram a entrevista. Dirceu não foi encontrado por sua assessoria. João Paulo Cunha disse que o publicitário prestou serviço para a campanha do deputado à presidência da Câmara. O Banco Rural informou que o avião nunca foi usado por Delúbio Soares.

Depois da entrevista da ex-secretária à TV Globo, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pediu e o presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), concordou que a comissão encaminhe ofício ao Ministério da Justiça pedindo que ela e sua família entrem no programa de proteção a testemunhas. A comissão pode antecipar seu depoimento.