Título: 'Mensalinho' da Alerj seria pago por empresas
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 22/06/2005, O País, p. 10
'Sempre ouvi dizer que aqui havia o pagamento de uma caixinha', diz líder do PTB na Assembléia, José Nader
Ninguém sabe, ninguém viu, mas as denúncias de Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que o esquema do mensalão nasceu na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) já renderam entre os deputados até apelido à suposta mesada: mensalinho. Oficialmente, nenhum parlamentar confirmou ter recebido a proposta, mas as declarações de Jefferson remeteram a denúncias que volta e meia circulam nos bastidores da Assembléia, de que deputados recebiam uma mesada de empresários de ônibus para aprovar projetos de interesse do setor.
- Desconheço o mensalão e o mensalinho. Mas sempre ouvi dizer que aqui havia o pagamento de uma caixinha aos deputados - disse o líder do PTB, José Nader, que prometeu pedir detalhes a Jefferson sobre as novas denúncias.
As denúncias assombram a Assembléia há pelo menos dez anos, contam os parlamentares mais antigos. Em 1999, Chico Alencar (PT), hoje deputado federal, e Paulo Ramos (PDT) deram entrada em um pedido de CPI para apurar a suposta compra de deputados, mas a solicitação foi arquivada. Anteontem, Jefferson voltou à carga, dando pelo menos um nome. Segundo ele, o deputado federal Bispo Rodrigues (PL) seria o responsável por operar o esquema e também por exportá-lo para a Câmara dos Deputados.
Rodrigues (hoje Carlos Rodrigues) negou as acusações, disse que pouco freqüentava a Alerj e atribuiu as acusações a uma tática de defesa de Jefferson:
- Ele sabe que o PTB ficaria vazio, com os deputados indo para o PP e para o PL.
Cidinha Campos (PDT) quer investigação:
- O Bispo Rodrigues deve ser investigado. Ele sempre aparece em denúncias deste tipo. Como dizia o Brizola, quem tem couro de jacaré, olho de jacaré e boca de jacaré, é jacaré.
A Alerj divulgou nota em que nega a existência do mensalinho e diz que as denúncias são inverídicas e irresponsáveis. A governadora Rosinha Garotinho não comentou o assunto, mas defendeu a apuração do caso:
- Não tenho nada a declarar sobre a Alerj. A minha posição é a mesma: apura-se - disse a governadora.
Líder do PMDB na Alerj, Paulo Melo considera absurdas as denúncias de mesadas ligadas às empresas de ônibus:
- A denúncia não tem pé nem cabeça. Nos últimos anos a Assembléia impôs várias derrotas às empresas, que passaram a pagar mais ICMS e perderam dinheiro com as gratuidades.
Carlos Minc (PT) defendeu uma apuração cautelosa:
- Se aparecerem indícios, tem que ser investigado. Mas é preciso cuidado com as declarações sem provas. Jefferson agora virou o acusador-geral da União.
Casa pode pedir explicações por escrito a Jefferson
Requerimento pede que deputado confirme denúncia e dê nomes
A Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) pode pedir explicações ao presidente do PTB, Roberto Jefferson, sobre as denúncias feitas por ele de que o esquema do mensalão tem origem no Parlamento estadual e que foi exportado para a Câmara dos Deputados. O deputado Alessandro Molon (PT) apresentou ontem um requerimento à Mesa Diretora solicitando que a Alerj pergunte oficialmente a Jefferson se ele confirma as denúncias e se seria capaz de apontar os deputados que faziam parte do suposto esquema.
O requerimento ainda precisa ser votado, mas o deputado Paulo Melo (PMDB), líder da maior bancada da Assembléia, já disse ser a favor da proposta. O presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), não foi à sessão de ontem.
- Seriam perguntas por escrito. Se Jefferson confirmar e der mais informações, a Casa tem que investigar o caso - disse Molon.
De manhã, Picciani defendeu, em entrevista à rádio CBN, a quebra de sigilo telefônico de Bispo Rodrigues:
- Tenho certeza que vai provar que ele não falava com praticamente nenhum deputado estadual de seu partido, muito menos fora do PL.