Título: Contradições marcam entrevistas de Jefferson
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 22/06/2005, O País, p. 13

Deputado dá versões conflitantes sobre as reuniões em que teria informado a Lula da existência do mensalão

BRASÍLIA. Desde que denunciou publicamente a existência do mensalão, o ex-presidente licenciado do PTB Roberto Jefferson (RJ) vem exibindo contradições e criando novas versões para os mesmos fatos à medida que seus correligionários não confirmam suas histórias. A cada declaração, cria-se a percepção de que o deputado pode estar ligando fatos verdadeiros a outros falsos.

Nas entrevistas à "Folha de S. Paulo" e no depoimento ao Conselho de Ética, Jefferson relatou que falou do mensalão com o presidente Lula em audiência no dia 5 de janeiro e que, depois disso, o pagamento do mensalão parou.

Disse em outra ocasião que tratou também do assunto na audiência de 23 de março, em que estavam o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia; o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo; e os líderes do PTB, José Múcio, e do governo, Arlindo Chinaglia. Jefferson não explica por que voltou a falar do mensalão em março com Lula se ele mesmo disse que, depois da conversa de janeiro, o esquema havia sido brecado.

Outro ponto nebuloso refere-se a uma reunião da bancada do PTB para deliberar se o partido aceitaria ou não receber o mensalão. No Conselho de Ética, José Múcio negou que tenha participado de tal reunião. Outros nomes da bancada também desconhecem o encontro. A versão mais recente é a de Ricarte de Freitas (PTB-MT) que conta que um dia (não sabe precisar quando) Jefferson tocou no assunto com companheiros do partido. Mas ele garante que não foi numa reunião e que não houve votação.

O mensalão, de acordo com Jefferson, foi a forma que o PT encontrou para comprar o apoio dos deputados do PL e do PP. Jefferson conta que o esquema existia desde 2003 e, portanto, entra em conflito com as enormes dificuldades que o governo enfrentou na Câmara em 2004. Em maio, foi derrotada a emenda da reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, que interessava ao então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

Deputados do PTB negam doações de campanhas

A versão de que Jefferson teria recebido do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, R$4 milhões para as eleições é questionada no PTB. Na reunião da bancada de 16 de junho, o deputado Vicente Cascioni (PTB-SP) perguntou aos 40 deputados presentes se tinham recebido dinheiro da Executiva. Cascioni disse não ter recebido nada. Outros disseram o mesmo.

Em setembro de 2004, quando a denúncia foi publicada na revista "Veja", Jefferson a negou com veemência. No discurso que fez na Câmara em 17 de maio, disse que o acordo foi feito mas não se concretizou. E quando deu entrevistas em junho afirmou ter recebido R$4 milhões dos R$20 milhões.

O ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira negou ontem no Conselho de Ética que quando Jefferson lhe falou do mensalão tenha mencionado que ele era comandado por Delúbio e repassado pelo empresário Marcos Valério.

Legenda da foto: ROBERTO JEFFERSON: versões conflitantes e contradições apresentadas em denúncias sobre o mensalão