Título: PF apreende documentos de tesoureiro do PTB
Autor: Jailton de Carvalho e Roberta Canetti
Fonte: O Globo, 22/06/2005, O País, p. 14

Emerson Palmieri afirmou ter recebido R$4 milhões do PT, mas disse que chave do cofre ficou com Jefferson

BRASÍLIA e CURITIBA. A Polícia Federal fez ontem buscas em Brasília, no Rio e no Paraná para apreender agendas, documentos, celulares e computadores do tesoureiro do PTB e ex-diretor da Embratur Emerson Palmieri, um dos responsáveis pela guarda dos R$4 milhões que dirigentes do PT teriam entregue ao partido do deputado Roberto Jefferson (RJ), e também em endereços do ex-presidente da Eletronorte Roberto Garcia Salmeron e de Henri Carvalho, assessor do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna.

As buscas foram determinadas pela Justiça Federal a pedido da força-tarefa do Ministério Público encarregada de investigar o suposto esquema de fraudes de apadrinhados de Jefferson nos Correios. Em entrevista ao GLOBO, na semana passada, Palmieiri confirmou o recebimento de R$4 milhões do PT, mas disse que o dinheiro foi entregue a Jefferson, que teria ficado com a chave do cofre existente da sede do PTB.

Nos escritórios de Palmieri em Londrina (PR), a Polícia Federal apreendeu extratos bancários, livros-caixa, agendas, uma pistola e munição. Os mandados de busca e apreensão, expedidos pela 10ªVara Federal de Brasília, foram cumpridos também na fazenda da família de Palmieri, no município de Japira (PR), e no escritório do primeiro-secretário do PTB, em Londrina.

Escândalo na eleição de 2002

Palmieri já foi citado em outro escândalo envolvendo dinheiro não declarado em eleições. Em 2002, quando era um dos coordenadores da campanha presidencial de Ciro Gomes, ele foi acusado de receber R$560 mil no esquema de caixa dois do então prefeito de Curitiba e candidato à reeleição, Cassio Taniguchi (PFL-PR). O nome de Palmieri constava de um livro-caixa paralelo, entregue ao Ministério Público Estadual.

Salmeron, indicado para a Eletronorte por Jefferson, foi citado no depoimento do ex-diretor de Administração dos Correios Antônio Osório Batista. Jefferson e Salmeron teriam assistido à gravação em que o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho é flagrado recebendo R$3 mil de propina, um dia antes da divulgação do escândalo. Depois de ter seu nome envolvido nas denúncias, Salmeron pediu demissão do cargo.

Jefferson voltou a dizer ontem que não vai contar o que fez com os R$4 milhões. Na semana passada, ele disse que só esclarece o mistério se o presidente do PT, José Genoino, apresentar o recibo de doação. Os valores não foram declarados à Justiça Eleitoral. A exemplo da Polícia Federal, o Ministério Público está investigando o suposto esquema de fraudes descrito por Marinho numa conversa com dois arapongas disfarçados de empresários.

Na conversa, Marinho conta que ele e mais dois apadrinhados de Jefferson, Antônio Osório e Fernando Godoy, seriam os sustentáculos de um esquema de desvio de dinheiro para o PTB. Os procuradores da República querem saber quanto os três, que ocupavam postos chaves nos Correios, amealharam e se, de fato, o dinheiro foi entregue ao partido. A PF e o Ministério Público não informaram a razão das buscas nos endereços de Salmeron e Henri Carvalho.

Carvalho teria intermediado uma reunião entre Jefferson e o consultor Arlindo Molina. O consultor passou nove dias preso sob a acusação de envolvimento com as gravações da cena em que Maurício Marinho aparece recebendo R$3 mil de dois falsos empresários.

(*) Especial para O GLOBO

Legenda da foto: O COFRE DO PTB, na sede do partido, em Brasília: dinheiro entregue pelo PT e guardado por Jefferson