Título: GASTO DE BRASILEIRO NO EXTERIOR CRESCE
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 22/06/2005, Economia, p. 24

Remessas e viagens aumentam com desvalorização da moeda americana

BRASÍLIA. A valorização do real frente ao dólar está estimulando o aumento dos gastos com viagens de brasileiros a outros países e as remessas de lucros de empresas multinacionais ao exterior. Em maio, a conta de serviços - da qual os dois itens fazem parte - registrou um déficit 62% maior do que no mesmo mês do ano passado. O que ainda compensa o impacto é o comércio exterior que, apesar da queda do dólar, mantém saldos elevados. De maio de 2004 a maio de 2005, a cotação da moeda americana caiu 23,2% no mercado brasileiro, baixando de R$3,11 para R$2,40.

Aliado à recuperação da renda do trabalhador, o dólar mais barato fez com que os brasileiros gastassem 135,6% mais nas viagens internacionais em maio deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado, e US$133 milhões a mais do que os turistas estrangeiros gastaram aqui no Brasil no mesmo período.

O real forte também impulsiona as remessas de lucro, que chegaram a US$1,450 bilhão em maio. Para o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, as remessas correspondem aos ganhos com os US$142 bilhões que os estrangeiros mantêm investidos no setor produtivo no Brasil. Quanto mais valorizado o real, mais dólares ele vira na hora de a empresa remeter ao exterior.

- Historicamente, as remessas representam entre 4,5% e 5% do estoque de investimento direto. Elas cresceram um pouco mais do que imaginávamos - disse Lopes, acrescentando que o BC subiu de US$7,8 bilhões para US$9 bilhões a previsão de remessas em 2005.

Superávit comercial cresceu em relação ao ano passado

O economista Alex Agostini, da consultoria Global Invest, avaliou que as remessas maiores não se relacionam a problemas internos do Brasil, mas sim às dificuldades de multinacionais nos EUA e na Europa. Segundo ele, companhias como as montadoras de veículos têm problemas em seus mercados de origem e atualmente buscam recursos em suas filiais.

- O ambiente externo não está fácil para grandes empresas que fizeram investimentos nos últimos anos em países como o Brasil. Também chega um momento de dar o retorno deste investimento - disse Agostini.

Mesmo com o déficit cada vez maior na área de serviços, as contas externas afastam hoje os riscos de grandes choques externos graças à balança comercial, cujo superávit, nos cinco primeiros meses do ano, aumentou de US$11,205 bilhões em 2004 para US$15,645 bilhões.

Com o desempenho do comércio exterior, o superávit em transações correntes - que reúnem balança comercial, viagens, remessas, transferências de recursos e pagamentos de juros - saltou de US$2,334 bilhões, de janeiro a maio de 2004, para US$4,065 bilhões este ano. Mas o BC diz que há uma tendência de queda.

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