Título: POLÍCIA DESCOBRE EQUIPAMENTOS FURTADOS DA VASP
Autor: Ronaldo D'Ercole e Rodrigo Ferreira
Fonte: O Globo, 22/06/2005, Economia, p. 25

Dono de galpão diz que guardava itens a pedido de filho do dono da companhia, que está com os bens penhorados

SÃO PAULO e RIO. A Polícia Civil descobriu ontem em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, um galpão onde estavam escondidas peças, equipamentos, veículos e até uma turbina de Boeing 737 pertencentes à Vasp, que está sob intervenção da Justiça do Trabalho desde março. Os equipamentos, cujo valor foi estimado pela polícia em R$8 milhões, teriam sido furtados de instalações da empresa em Congonhas, muitos deles de áreas que estavam lacradas por determinação da Justiça.

Preso em flagrante, o dono do depósito, Anésio Bovolon Júnior, disse que guardava os equipamentos a pedido de César Canhedo, diretor e filho do dono da Vasp, o empresário Wagner Canhedo. O GLOBO não conseguiu falar com César Canhedo.

Embora Bovolon tenha negado que fosse vender os equipamentos desviados, muitas das peças e veículos encontrados tinham a logomarca da Vasp já encoberta por tinta ou simplesmente raspada.

Além da intervenção, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou no início deste mês a penhora de bens da Vasp no valor de R$75 milhões para quitação das pendências trabalhistas. De acordo com a promotora Vivian Mattos, do Ministério Público do Trabalho (MPT), o desvio de bens caracteriza "fraude de execução", que se for comprovada pode levar o dono da Vasp à prisão, como depositário infiel.

Um boletim de ocorrência relatando os arrombamentos e os furtos de equipamentos da empresa já fora registrado pela comissão de intervenção da Vasp na segunda-feira. A promotora lembrou que o desvio de bens da empresa foi um dos motivos que levaram ao pedido de intervenção na Vasp. Mas, segundo ela, os arrombamentos ocorreram principalmente depois de 25 de maio, quando Wagner Canhedo encenou um acordo com o TRT.

Pelo acordo, em troca da suspensão da intervenção na empresa, o empresário se comprometia a pagar cerca de R$40 milhões em salários atrasados a seus empregados em um prazo de até dez dias. Nesse período, a segurança nas instalações da companhia, que já era precária, foi relaxada, o que, segundo os sindicalistas, abriu caminho para "novas pilhagens".

- Não bastasse o prejuízo que deixou na empresa, (Canhedo) estava agora desviando uma série de bens e peças - protestou ontem a presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella Baggio. - O patrimônio da Vasp é a garantia de que os empregados da empresa vão receber o que devem. Existe um acordo e ele deve ser cumprido.

Delegado vai investigar se houve conivência

Para Graziella, a comercialização de peças da Vasp tem que ser investigada, porque significa a dilapidação do patrimônio da empresa.

O delegado encarregado do caso, Marco Antonio de Paula Santos, disse que irá investigar também se houve conivência de funcionários da Infraero e da Polícia Federal na retirada dos equipamentos, uma vez que as instalações da Vasp ficam dentro do perímetro do Aeroporto de Congonhas.

A comissão de intervenção da Vasp, que reúne representantes dos sindicatos, avalia que o volume de bens desviados da empresa é muito maior. O problema é que quando assumiu a empresa, em março, a comissão descobriu que toda a memória (HD) dos computadores da companhia desaparecera.

COLABOROU Mirelle de França

(*) Do Diário de S.Paulo

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Legenda da foto: NO GALPÃO em São Bernardo do Campo, em São Paulo, os policiais encontraram até uma turbina de um avião Boeing 737 pertencente à Vasp