Título: POLÍTICO ANTI-SÍRIA É ASSASSINADO NO LÍBANO
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Fonte: O Globo, 22/06/2005, O Mundo, p. 31
Segunda morte de opositor de Damasco em atentado este mês reforça suspeitas de espionagem do país vizinho
BEIRUTE. Um dia depois de confirmada a vitória de uma aliança anti-Síria nas eleições parlamentares libanesas, um político de oposição a Damasco foi assassinado ontem em Beirute. Ex-líder do Partido Comunista libanês, George Hawi morreu quando uma bomba explodiu dentro de seu carro. A Síria negou envolvimento no crime, mas o atentado reforçou suspeitas de que ela insiste em manter sua influência sobre o país vizinho.
Foi o segundo assassinato de um proeminente libanês anti-Síria em Beirute este mês. No dia 2, o jornalista Samir Kassir foi morto num atentado a bomba semelhante, que destruiu seu carro. Depois disso, os EUA disseram ter informações de que a Síria teria uma lista de líderes libaneses como alvos. Já a ONU enviou uma equipe para investigar as denúncias de que espiões sírios permaneciam no país.
Condoleezza acusa Síriade desestabilizar Líbano
A polícia disse que uma bomba instalada sob o banco de passageiros da Mercedes de Hawi, onde ele estava sentado, foi detonada por controle remoto. Seu motorista ficou gravemente ferido.
- Depois da explosão, o carro continuou andando e vi o motorista gritando e se jogando pela janela. Corremos até o carro e vimos Hawi no banco de passageiros com as vísceras para fora - contou o comerciante Rami Abu Dargham.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, acusou a Síria de desestabilizar o Líbano:
- Há um contexto e uma atmosfera de instabilidade. As atividades da Síria são parte disso e precisam ser eliminadas.
Em abril, a Síria retirou suas tropas do Líbano - onde estavam há 30 anos - devido a pressões internacionais e protestos de libaneses iniciados em fevereiro, depois do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri, atribuído a Damasco. A aliança que ganhou as eleições parlamentares é liderada por Saad Hariri, filho do ex-premier.
Rafi Madoyan, enteado de Hawi, culpou agentes sírios pelo crime. Cerca de três mil pessoas fizeram vigília em memória do ex-líder comunista, com velas, flores e retratos dele.
Sob pressão para renunciar devido aos assassinatos, o presidente pró-Síria Emile Lahoud prometeu investigá-los e para isso pediu ajuda aos EUA. Em comunicado, a Presidência perguntou: "É coincidência que este crime tenha acontecido hoje (ontem), poucas horas depois do fim das eleições parlamentares que o mundo viu acontecer democraticamente?".
Morto aos 67 anos, Hawi se opusera à entrada das tropas sírias no Líbano, em 1975, para intervir na guerra civil encerrada em 1990. Porém, mais tarde fez uma aliança com sírios contra milícias cristãs pró-Israel. Sob sua liderança, o Partido Comunista foi a principal frente do movimento de resistência nacional que lutou com guerrilheiros palestinos contra a invasão israelense de 1982. Hawi não apoiou abertamente a oposição anti-Síria depois do assassinato de Hariri, mas teve um importante papel nos bastidores do poder, conciliando opositores.
O primeiro-ministro Najib Mikati, amigo do presidente da Síria, Bashar al-Assad, deixou o poder ontem. O novo Parlamento se reunirá no dia 28 para eleger seu presidente e um novo premier.
Legenda da foto: HAWI: conciliador de opositores