Título: MARINHO LEVANTA NOVAS SUSPEITAS
Autor: Bernardo de la Peña e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 23/06/2005, O País, p. 5

Em depoimento à CPI, ex-chefe dos Correios acusa Silvio Pereira e Gushiken

BRASíLIA. Numa estratégia similar à adotada pelo ex-presidente do PTB Roberto Jefferson, o ex-chefe do departamento de contratações dos Correios Maurício Marinho lançou suspeitas ontem sobre pelo menos 13 negócios feitos pela empresa. Num depoimento tumultuado na CPI dos Correios, Marinho centrou fogo no secretário-geral do PT, Silvio Pereira, a quem atribuiu as indicações dos diretores que comandavam as áreas de Tecnologia e Operações, áreas cujos principais negócios, segundo ele, teriam indícios de irregularidades e deveriam ser investigados pela CPI. Marinho também fez acusações ao secretário de Comunicação do governo, Luiz Gushiken.

Entre os negócios que estariam sob suspeita, Marinho incluiu os contratos com as agências de propaganda, nas palavras dele, "vinculados à Secretaria de Comunicação do doutor Luiz Gushiken". Flagrado por uma câmera ao receber propina de R$3 mil em nome do PTB, Marinho também denunciou um suposto esquema que funcionaria nos Correios em que parlamentares usando laranjas receberiam as concessões de franquias da estatal para as quais seriam destinados os maiores clientes.

- O caso das franquias já passa de 10 ou 15 anos e vem sendo prorrogado. Para o atendimento é bom, mas para arrecadação da empresa (Correios) não é. Temos o contrato das agências. Atrás dessas pessoas, ditas laranjas, estariam parlamentares - disse.

Marinho citou ainda negócios nos quais Silvio Pereira supostamente teria interesse, como nos que envolviam a empresa de informática HHP. Ele citou uma licitação que foi cancelada e, logo em seguida, a estatal teria sido obrigada a fazer uma compra emergencial da HHP. Segundo ele, "era voz corrente nos Correios que essa empresa teria vínculo com o PT".

O depoimento seguia com Marinho negando as acusações até que os advogados de defesa ameaçaram se retirar. Provocado pelo senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), Marinho disse que foi seguido e pediu segurança. Depois disso, passou a listar os negócios nos Correios que deveriam ser investigados:

- É isso que os senhores querem ouvir? Peço pelo amor de Deus pela segurança da minha família - afirmou Marinho, que passou a narrar os negócios que a comissão deveria investigar.

- Os contratos com agências de propaganda e destinação de recursos de patrocínios vinculados a Secretaria de Comunicação do governo, através do departamento de marketing da ECT, e o doutor Luiz Gushiken - disse Marinho ao citar o ministro.

O depoimento durou cerca de 12 horas. Começou na noite de anteontem, foi interrompido perto de meia noite e recomeçou ontem pela manhã. Durante quase todo o tempo, Marinho negou boa parte do que disse no vídeo. Afirmou não fazer parte de um esquema de arrecadação de recursos para o PTB, admitiu ter tido pelo menos três encontros com Jefferson e manter contato com seu genro Marcus Vinícius Ferreira.

OS CONTRATOS CITADOS POR MARINHO

Maurício Marinho pôs sob suspeita 15 negócios feitos pelos Correios. Ele sugeriu que a CPI investigue essas áreas:

DIGITAIS: Nas aquisições de máquinas de registrar digitais, Marinho pediu que fosse apurado o objeto do contrato e se havia sido cumprido.

COFRES: A construção das salas-cofres em São Paulo e Brasília, coordenada pela área de Tecnologia é outro alvo. Sugeriu que os parlamentares procurem saber quais as empresas interessadas na obra.

SOFTWARE: Aquisições de software e hardware.

CONTAS: Sobre a compra de leitoras de contas de água e luz, Marinho apontou como beneficiária a empresa HHP, que seria protegida pelo secretário-geral do PT, Silvio Pereira.

BANCO POSTAL: A compra de kits para o banco postal e para serviços de automação envolveria um contrato de mais de R$120 milhões que, segundo Marinho, teria sido feito com o consórcio Alfa e a Novadata, empresa de informática que pertence ao empresário Mauro Dutra.

ADMINISTRAÇÃO: Aquisição de kits para o setor de administração.

MANUTENÇÃO: Todos os contratos da área de engenharia, de manutenção e de obras terceirizadas que são geridos pela diretoria de Tecnologia, que teria, segundo ele, um orçamento de R$700 milhões.

SEGUROS: Os contratos que envolvem seguros.

PUBLICIDADE: Os contratos com agências de publicidade e patrocínios que, segundo Marinho, estão vinculados à presidência dos Correios, à área de marketing e à Secretaria de Comunicação de Governo. Marinho sugere que a CPI investigue o destino das receitas.

TRANSPORTES: São contratos na área de transportes de carga. Marinho citou a empresa Skymaster.

BICICLETAS: Solicita avaliação da compra de caixetas, bicicletas, motos e veículos, com especificação e apoio da diretoria de Tecnologia. No caso das caixetas, Marinho diz que há monopólio da empresa Marfinite.

CORREIO HÍBRIDO: Marinho aponta o Bradesco como beneficiário de supostas irregularidades. Pede a apuração dos contratos para criação do banco postal, na contratação da Scopus para manutenção de equipamentos e no serviço de correio híbrido. Neste caso, a licitação teria sido vencida pela Postel que, segundo Marinho, formou consórcio do qual faria parte o American Bank Note, do qual o Bradesco seria dono de 22,5%.

FRANQUEADAS: Sugeriu a existência de irregularidades no direcionamento de grandes clientes para agências franqueadas. E citou a existência de um suposto esquema de concessão destas agências a laranjas de parlamentares.

Legenda da foto: MAURÍCIO MARINHO: "Atrás de laranjas, estariam parlamentares"