Título: CASSOL FOI FILMADO OFERECENDO PROPINA
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 23/06/2005, O País, p. 13

Na fita, governador de Rondônia propõe uma mesada de R$20 mil a deputado

SÃO PAULO. O governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), aparece em fitas de vídeo apreendidas pela Polícia Federal em sua casa oferecendo R$20 mil por mês a deputados estaduais em troca de apoio a seus projetos. As imagens, mostradas na edição de ontem e de anteontem do "Jornal da Band", da TV Bandeirantes, mostram o governador fazendo a proposta ao deputado Amarildo Almeida. Cassol diz ainda que o governo estadual entrega, sem licitação, obras para o Sindicato da Construção Civil de Rondônia.

Almeida, afastado do PDT por causa de denúncias do governador, aparece na gravação negando a proposta. "Numa proposta dessa eu nem ia sentar para conservar com o senhor", diz o parlamentar. "A proposta de oportunidade é única, R$50 mil para cada um dos 14 deputados", oferece Cassol. Amarildo responde: "O senhor pode contar com R$50 mil a menos."

João da Muleta também aparece nas gravações

Em outro trecho da gravação, o governador conversa também com o deputado João da Muleta, um dos sete acusados de pedir propina. Cassol revela que paga R$20 mil por mês a quatro parlamentares governistas. Quem faz os acertos é João Cahula, na época chefe da Casa Civil. Em outra conversa, com o deputado Ronilton Capixaba, Cassol diz que metade das obras do estado vai para o Sindicato da Construção Civil (Sinduscon). Os deputados só teriam o trabalho de pegar o dinheiro diretamente no Sinduscon.

Segundo o governador, ele é que recebeu o pedido de propina de sete deputados e repassou o pedido a outros para gravar a reação deles.

"Em muitas das gravações fiz simulações. Se estou gravando e quero que o pessoal abra o jogo, eu tenho que pedir. De que maneira? Eu pedia para eles: 'De que maneira você fazia?' Essa simulação é para que eles abrissem o jogo', justificou o governador à emissora.

Fitas apreendidas pela PF estão sendo periciadas

As fitas apreendidas pela Polícia Federal em Rondônia foram envidas ao Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, para serem periciadas. Nas fitas, recolhidas na casa do governador por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), está toda a gravação feita pelo próprio Cassol.

Em uma versão da gravação mostrada no "Fantástico", da Rede Globo, em 15 de maio, Cassol denunciara um grupo de dez deputados por terem exigido R$50 mil por mês para não aprovarem o seu impeachment. Depois da apresentação da fita, a denúncia contra ele por crime de responsabilidade na Assembléia Legislativa de Rondônia foi arquivada. O governador era acusado de descumprir a lei orçamentária do estado, editando decretos e gerenciando o orçamento de 2004.