Título: PROCURADOR CONTINUA A DEFENDER PRISÃO
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 23/06/2005, O País, p. 14

Avelar afirma que há indícios de crime ambiental contra diretor do Ibama

CUIABÁ. O procurador da República Mário Lúcio Avelar continuou ontem a defender a existência de indícios de que Antônio Carlos Hummel pode ter cometido crime previsto na lei que define os crimes ambientais. Para o procurador, as investigações ainda não foram concluídas e Hummel ainda pode ser denunciado à Justiça.

- Ninguém foi denunciado até agora. Nem as pessoas que ainda estão presas. As investigações continuam. Eu não poderia pedir a prisão temporária de dezenas de pessoas e deixá-lo de fora - disse Avelar.

Hummel foi preso juntamente com outras 93 pessoas. Na sexta-feira passada, a Polícia Federal anunciou o fim do inquérito e indiciou 91 pessoas. Hummel não estava entre os indiciados. Ele foi solto quatro dias depois de ter sido preso a pedido do procurador.

Segundo o procurador, o diretor de Florestas do Ibama era o gestor de um banco de dados que controlava os planos de manejo (exploração controlada) em todo país e não evitou práticas lesivas ao meio ambiente. Levantamento realizado pelo Ministério Público mostra que o Ibama aprovou 197 planos de manejo em terras indígenas, em unidades de conservação e no seu entorno, além de 960 operações sem coordenadas, 25 incidindo em outros países e 75 em áreas já desmatadas.

- O senhor Antônio Carlos Hummel era o gestor do sistema. Ele tinha o dever legal de fazer a supervisão, coordenação e gestão destes planos de manejo. Tenho dois depoimentos de pessoas que o alertaram sobre o que estava ocorrendo e ele não tomou providências - disse o procurador.

A lei de crimes ambientais estabelece que também comete crime o diretor de órgão que, sabendo da prática lesiva ao meio ambiente, não toma providências. Segundo Avelar, o delegado da Polícia Federal em Cuiabá, Tardelli Boaventura, responsável pelos inquéritos sobre crimes ambientais, chegou a perguntar-lhe se deveria indiciar Hummel e se ele deveria continuar preso.

- Eu entendi (o indiciamento) não ser necessário porque as investigações prosseguem. Como já havia tomado seu depoimento e colhido as provas nos mandados de busca e apreensão, achei que sua prisão temporária não mais se justificava - afirmou.

Polêmica desde o início

Nome de Hummel não estava na lista da PF

BRASÍLIA. A prisão de Antônio Carlos Hummel vem provocando reações desde o início da Operação Curupira. O pedido de prisão foi feito pelo procurador da República Mário Lúcio Avelar contra a vontade de delegados da Polícia Federal encarregados de investigar as fraudes no Ibama de Mato Grosso. A polícia só soube que Hummel estava entre os servidores do Ibama com pedido de prisão decretada pela Justiça um dia antes da deflagração da operação.

Em conversas reservadas logo após as primeiras prisões, um dos delegados da cúpula da PF disse que nada sabia sobre o envolvimento de Hummel com as fraudes.

- Mas, se o Ministério Público está pedindo a prisão dele é porque tem seus motivos. Em nossas investigações não encontramos nada que o incrimine - disse o delegado.

A PF e o Ministério Público Federal fizeram uma parceria para investigar o esquemas de desmatamento e contrabando de madeira. Mas, o Ministério Público, na reta final da apuração, pediu a prisão de 40 pessoas que ainda não estavam da lista da PF. Entre estes novos pedidos, estava o de Hummel.