Título: 'É UMA FERIDA QUE NÃO VAI SER CURADA NUNCA'
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 23/06/2005, O País, p. 14

Diretor do Ibama preso pela PF por suspeita de fraude e liberado por falta de provas deve processar a União

O diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, disse ontem que planeja cobrar da União, na Justiça, indenização por danos morais por ter sido preso por cinco dias na Operação Curupira, da Polícia Federal, sob a suspeita de integrar um esquema de concessão de licenças ambientais irregulares em Mato Grosso. Hummel foi detido em 2 de junho e liberado dia 7 de junho por falta de provas.

A Operação Curupira prendeu funcionários do Ibama e madeireiros acusados de formação de quadrilha para a aprovação de projetos florestais irregulares, inclusive em áreas indígenas e de preservação ambiental. Como Elio Gaspari informou em sua coluna ontem no GLOBO, o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura, responsável pela operação, informou que não havia nada contra Hummel na investigação. Hummel, engenheiro florestal com 23 anos de serviço público, tem somente um apartamento de três quartos e dois carros Gol. Ele foi afastado do cargo.

O senhor se sente vítima de uma injustiça?

ANTÔNIO CARLOS HUMMEL: Eu estava combatendo a quadrilha, não participei de quadrilha alguma. Não houve motivo para a minha prisão. Fui vítima de uma injustiça muito grande. O Ministério Público tomou uma atitude precipitada. Os procuradores poderiam ter me convocado antes para prestar esclarecimentos, mas preferiram tomar uma medida drástica, sem avaliar a situação corretamente. A Polícia Federal sempre disse, até mesmo nos jornais, que não havia indícios contra mim. Agora, este erro precisa ser reparado.

De que forma o senhor acha que isso poderia ser feito?

HUMMEL: É uma ferida que não vai ser curada nunca. Sou funcionário de carreira e tinha reconhecimento nacional. Não tem preço que pague isso. Mas acho que uma ação por danos morais poderia impedir as autoridades de fazerem isso de novo, com outro servidor público.

Quanto o senhor pretende pedir como indenização?

HUMMEL: Eu ainda estou avaliando com os meus advogados se vale a pena mesmo entrar com a ação. Ainda não tenho idéia de valores financeiros.

Como o senhor analisa a atuação do Ministério Público e da Polícia Federal nas investigações sobre os crimes ambientais?

HUMMEL: O Ministério Público e a Polícia Federal são dois grandes aliados da área ambiental. Torço para que o que aconteceu comigo não ocorra mais.

O senhor conversou com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre esse episódio?

HUMMEL: Desde a minha prisão, a ministra me deu total apoio. Ela demonstrou certeza da minha inocência.

Mas a ministra defendeu o seu afastamento do cargo enquanto as investigações estiverem em curso.

HUMMEL: Acho que qualquer dirigente público faria isso, por cautela. Sou concursado, mas o cargo de diretor é de confiança. Se existe dúvida sobre a minha conduta, é natural que eu seja afastado.

O senhor deve continuar no cargo depois desse período?

HUMMEL: Ainda não sei. Vou avaliar com os meus superiores em agosto. Mas, se for preciso, não terei problemas de cumprir uma outra função no Ibama.

O que deve ser feito para corrigir o erro dessa ação do Ministério Público que levantou suspeitas sobre a atuação do Ibama em regiões onde o desmatamento é grande como em Mato Grosso?

HUMMEL: Depois do que aconteceu comigo, é importante que os funcionários do Ibama sejam mais valorizados do que são agora. Hoje o Ibama é a principal instância de combate ao crime ambiental no país.

Legenda da foto: ANTÔNIO CARLOS Hummel: "Eu estava combatendo a quadrilha, não participei de quadrilha alguma"