Título: ALTO RISCO DE ATAQUE NUCLEAR NA PRÓXIMA DÉCADA
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Fonte: O Globo, 23/06/2005, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 34

Pesquisa mostra que possibilidade de uso de armas de destruição em massa chega a 70% em dez anos

WASHINGTON. As chances de o mundo sofrer um ataque com armas de destruição em massa nos próximos dez anos chegam a 70%, prevêem especialistas ouvidos numa pesquisa realizada pelo Congresso americano. A maioria de 85 analistas ouvidos acredita que um ou dois países vão adquirir armas nucleares nos próximos cinco anos e que de dois a cinco vão entrar para o "clube nuclear" na próxima década.

A pesquisa, conduzida pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Richard Lugar, descreve a ameaça como "real e aumentando com o passar do tempo". Ela também mostra que quatro em cada cinco entrevistados acreditam que seus países não gastam o suficiente em programas para conter a proliferação nuclear.

O cenário mais provável para um ataque nuclear viria de terroristas com armamento fabricado por eles próprios com material comprado no mercado negro, descreve a pesquisa. "Os resultados ressaltam a necessidade de melhorar a segurança em torno de armas nucleares táticas e de material nuclear na Rússia, e expandir nossa capacidade de deter a transferência de armas ou materiais de Estados hostis para organizações terroristas", destaca a pesquisa.

Ataque com bomba suja seria o mais provável

A pesquisa apresenta a opinião dos especialistas, americanos em sua maioria, incluindo o principal funcionário do governo Bush na área de não-proliferação nuclear, Robert Joseph. Eles estimam o risco de um ataque nuclear nos próximos cinco anos em 16,4%; e de 29,2% na próxima década.

Pedidos para considerar a possibilidade de um ataque nuclear, biológico, químico ou radiológico (a chamada bomba suja) a qualquer nação, os analistas concluíram que a chance de uma das quatro ocorrerem nos próximos cinco anos é de 50%; e de 70% em dez anos. Mas um assessor do senador Lugar que acompanhou a pesquisa disse que a estimativa de 70% era "muito conservadora".

Um atentado com bomba suja, que combina explosivos convencionais com material radioativo, é visto como mais provável, com um risco de 40% na próxima década. O relatório afirma ainda que "há um grande consenso entre o grupo (de especialistas) de que as armas nucleares vão proliferar em novos países nos próximos anos".

Atualmente há cinco potências nucleares declaradas: Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China. Acredita-se que outras três - Índia, Paquistão e Israel - também tenham armas nucleares. O Irã tenta desenvolver um programa nuclear que os EUA acreditam se destinar a produzir armas.

"Mesmo que sejamos espetacularmente bem-sucedidos na construção da democracia ao redor do mundo, em levar estabilidade a Estados enfraquecidos e em espalhar oportunidades econômicas, não estaremos a salvo de ações de grupos pequenos e hostis que adquiram armas de destruição em massa", disse o senador Lugar no prefácio do relatório.