Título: Após o confronto, a 'mão estendida'
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 24/06/2005, O País, p. 3

Em discurso moderado, Lula diz que corruptos devem ser punidos exemplarmente

Em pronunciamento de dez minutos em cadeia nacional de rádio e TV, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que enfrenta um momento de crise e disse que os corruptos, sejam adversários ou aliados, devem ser punidos exemplarmente. Dois dias depois de ter dito que ninguém mais do que ele tem autoridade moral e ética para combater a corrupção, Lula mudou o tom e falou em conciliação, usando a expressão "mão estendida".

- O meu objetivo é claro: fortalecer o país, proteger os brasileiros mais pobres e fazer crescer a economia. Este é o sentido maior que exige o espírito de colaboração, a mão estendida, mesmo na diversidade de opiniões. Acima de interesses particulares está o interesse nacional, a preservação e o aperfeiçoamento das instituições - disse Lula, para quem "o Brasil tem maturidade para corrigir seus próprios erros".

A " mão estendida" foi uma imagem usada pelo general João Figueiredo em 1978, ao vencer a eleição indireta para presidente: "Travado o pleito, porém, quero apresentar ao povo a mensagem que é a própria expressão do caráter nacional: a minha mão estendida em conciliação". O presidente venezuelano Hugo Chávez também pediu, em 2004, que a oposição aceitasse a derrota no referendo que o manteve no poder: "Convido meus compatriotas para conversar, estendo a mão mesmo a meus piores inimigos".

Nos últimos dias, o governo vinha incentivando discursos contra "forças conservadoras que queriam desestabilizar o presidente", como pregaram representantes de movimentos sociais em encontro com Lula, quarta-feira à noite. O presidente foi aconselhado a adotar um tom menos agressivo, diante da avaliação de que havia exagerado em seus ataques no discurso de improviso de terça-feira, em Goiás.

Lula cita PF e Ministério Público

Ontem, Lula destacou o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e de outros órgãos no combate à corrupção, elogiou a imprensa e foi direto ao tratar da corrupção, que comparou a um câncer que corrói o país:

- O combate à corrupção é como uma casa onde há muito tempo não se faz limpeza de verdade e onde muita sujeira está acumulada. Quando você começa a limpar, o que mais aparece é lixo. Esse é um governo que não joga a sujeira para debaixo do tapete.

E defendeu punição exemplar:

- O corrupto deve ser sempre punido. Seja quem for, venha de onde vier, seja adversário ou aliado.

Lula disse que as investigações serão reforçadas pela CPI dos Correios:

- Uma investigação profunda, como a que está sendo feita pela Polícia Federal, e agora reforçada pela CPI, para o bem do Brasil, saberá separar o joio do trigo, o bem do mal, a verdade da mentira. E garanto a vocês: se houver gente que tenha cometido desvios de conduta, usarei toda a força da lei. Tenho certeza que o Congresso saberá apurar todas as denúncias e que, ao mesmo tempo, continuará trabalhando para que os projetos de interesse do Brasil sejam discutidos e votados.

Lula afirmou que a PF e as instituições democráticas estão empenhadas em investigar. Disse que o combate à corrupção pode dar a "falsa impressão" de que ela aumentou.

- Se tem um governo que tem sido implacável no combate à corrupção, desde o primeiro dia, é o meu. Nunca o Brasil viu tanta gente importante e poderosa sendo presa por corrupção e por fraude contra os cofres públicos como agora. (...) Isso pode até dar a falsa impressão de que a corrupção tem aumentado, quando, na verdade, o que aumentou, e muito, foi o combate à corrupção - disse Lula, citando que a PF já prendeu 1.006 acusados de corrupção e que a Controladoria Geral da União já fez 7.500 auditorias em órgãos federais.

A ÍNTEGRA DO PRONUNCIAMENTO na página 4