Título: SENADORES PETISTAS REFUTAM TEORIA DO GOLPE
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 24/06/2005, O País, p. 3

'A CPI tem de investigar, não há outra saída. É hora de baixar a bola', diz Flávio Arns

BRASÍLIA. A teoria do golpe, usada nos últimos dias pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados para explicar a crise política, e reafirmada pelos movimentos sociais recebidos no Palácio do Planalto, foi repudiada ontem por senadores petistas. A iniciativa partiu de Flávio Arns (PT-PR) e provocou um intenso debate no plenário. Arns defendeu as investigações da CPI dos Correios e criticou o que chamou de radicalização por parte do governo, expressa, segundo ele, na claque que acompanhou a volta do ex-ministro José Dirceu à Câmara.

- Vamos parar com essa história de golpe. Não tem golpe. E vamos parar com essa história de que as elites não assimilaram a eleição de um trabalhador para a presidência. Vamos parar com esse argumento, vamos parar de elocubrar. A CPI tem de investigar, não há outra saída. É hora de baixar a bola - afirmou Arns, um ex-tucano, que brincou com os colegas do PSDB. Apontou o senador Eduardo Azeredo, presidente do partido:

- Você está preparando um golpe? Tirando a barba, não tem cara de golpista - perguntou o petista, que também usa barba.

Arns considerou que o ex-ministro não deveria ter discursado no primeiro dia como deputado:

- Não havia necessidade - ponderou.

Cristovam: " O governo não ganha nada com o acirramento"

A reação a seu discurso foi imediata e Arns ganhou a adesão de petistas e tucanos. O senador Cristovam Buarque (PT-DF) considerou que o governo tem cometido erros sucessivos, especialmente ao tentar encontrar justificativas externas para as próprias faltas. Para Cristovam, a oposição está cumprindo seu papel e e agindo sobre os equívocos do governo. O senador também condenou a incitação à mobilização social e as propostas de realizar manifestações de rua.

- O governo tem criado fricções sociais. Radicalizar é burrice. O governo não ganha nada com o acirramento, só a oposição. E estamos radicalizando com bandeiras perigosas, correndo o risco de desmoralizar os movimentos sociais. E se as denúncias forem verdadeiras? Como ficam o MST e a UNE? - observou Cristovam. - É brincar com fogo. Se a oposição resolver convocar de volta uma manifestação contra a corrupção, podemos ficar em minoria - disse.

Tasso Jereissati: "No fundo éuma tentativa de 'chavismo'"

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que a pior atitude que o governo poderia ter é levar as ruas manifestações antigolpistas.

- No fundo é uma tentativa de "chavismo" - disse Tasso, referindo-se ao estilo autoritário-populista do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. - A tentativa é grave, pode levar à desordem, mas não vai vingar.

Para Tasso o presidente Lula está "perdendo o bom senso" ao abrir a sala de reuniões do Palácio do Planalto para atos de desagravo. Segundo ele, a cena o chocou:

- Ele assim perde a liturgia e o sentido do cargo. Era como se estivesse preparando uma grande mobilização para o confronto político à la Chávez.

Tasso ressaltou ainda que o que está em debate não são questões ideológicas, mas o que chamou de um esquema de "corrupção sistêmica". Mas defendeu a permanência do presidente Lula no cargo:

- Vamos para com essa história de golpe. Ninguém quer o presidente Lula fora do cargo, Lula fica. Não existe golpe, existe corrupção grossa, roubo, delinqüência no governo federal. Estamos discutindo moral e ética - afirmou o senador tucano.

O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), rebateu as acusações de corrupção sistêmica e atitudes "chavistas". Segundo ele, o presidente está dialogando com a sociedade.

- O apoio dos movimentos sociais mostra amadurecimento da sociedade e confiança - afirmou Mercadante.

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