Título: Dirceu depõe na Corregedoria e diz que soube do mensalão pela imprensa
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 24/06/2005, O País, p. 10 e 11

Deputado desmente ter participado ou avalizado o acordo que Jefferson diz ter feito com o PT para que o partido desse R$20 milhões ao PTB, mas não nega que o acerto existisse

BRASÍLIA. O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) negou ontem participação no suposto esquema de corrupção denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Em depoimento fechado à Corregedoria da Câmara, ele negou comandar o pagamento do mensalão no Congresso e as outras denúncias de Jefferson, mas admitiu que procurou o deputado para pedir a retirada de sua assinatura do requerimento da CPI dos Correios.

Dirceu admitiu também conhecer o publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do pagamento de R$30 mil mensais a parlamentares do PP e do PL.

Dirceu respondeu a 40 perguntas em 50 minutos

Respondendo a 40 perguntas do relator Robson Tuma (PFL-SP) em cerca de 50 minutos, Dirceu também negou que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral, Sílvio Pereira, despachassem numa sala ao lado da sua na Casa Civil.

- Essa sala não existe. Nem os funcionários da Casa Civil aceitariam tal invasão de privacidade. Como coordenador político, recebia lá dirigentes partidários e políticos. Como Delúbio e Silvinho não eram parlamentares, isso talvez tenha chamado mais atenção sobre eles - respondeu Dirceu, segundo integrantes da comissão.

Na maioria das respostas, Dirceu foi monossilábico. Quando perguntado sobre sua relação com Marcos Valério, respondeu apenas que o conhecia, mas não explicou que tipo de ligação tinha com o publicitário. O ex-ministro também negou ter participado ou avalizado o acerto que Jefferson diz ter feito com o PT para que o partido desse R$20 milhões para financiar as campanhas do PTB em 2004. Mas não negou que o acerto existisse. Disse que sempre separou as funções de ministro das partidárias:

- Do partido cuidam Genoino, Delúbio e Silvinho.

Segundo Dirceu, a primeira vez em que ouviu falar do mensalão foi em setembro de 2004, quando o "Jornal do Brasil" publicou uma reportagem em que a fonte da informação teria sido o deputado Miro Teixeira (PT-RJ) - que posteriormente negou a entrevista.

- Por que Roberto Jefferson não foi ao presidente Lula e à tribuna denunciar o que sabia desde agosto de 2003? Quando ficamos sabendo pela imprensa, o governo não mandou apurar porque já havia uma investigação na Câmara, que concluiu pela inexistência do mensalão - disse Dirceu.

O ex-ministro também desmentiu o suposto episódio em que Jefferson teria lhe confidenciado que Delúbio estaria negociando o pagamento de mensalões. Dirceu negou a versão de Jefferson de que teria dado um soco na mesa e comentado que Delúbio não poderia fazer isso. Tuma também abordou a denúncia de que a Abin, a seu pedido, tenha mandado fazer a gravação que flagrou o ex-diretor Mauricio Marinho recebendo propina.

- Não tenho qualquer ingerência na Polícia Federal, na Abin, ou na Controladoria Geral da União. São órgãos que têm poderes constitucionalmente determinados e não me comunicam o que estão fazendo ou investigando - respondeu Dirceu.

Um forte aparato de segurança impediu que os jornalistas chegassem perto de Dirceu, que saiu pelos fundos da sala em que prestou depoimento.

Acareação na Corregedoria ainda não está decidida

O corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), disse que Dirceu não deixou pergunta sem resposta. Não há decisão sobre uma acareação entre Dirceu e Jefferson na Corregedoria. O ex-chefe da Casa Civil pode depor, semana que vem, em sessão pública, no Conselho de Ética da Câmara.

- Eles respondeu a todas as dúvidas - disse Ciro.

De manhã, foram ouvidos na Corregedoria os líderes do PTB, José Múcio (PE), e do PL, Sandro Mabel (GO). Múcio desmentiu Jefferson em relação ao suposto encontro com dirigentes de PP e PL para acertar a participação do PTB no mensalão. Mabel negou ter proposto um mensalão para que a deputada Raquel Teixeira, trocasse o PSDB pelo PL.

Legenda da foto: JOSÉ DIRCEU com Tuma, Ciro Nogueira e Mussa Demes, ao depor na Corregedoria: acusações negadas