Título: Por consenso, CPI dos Bingos vai ficar no papel
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 24/06/2005, O País, p. 12

Seguindo ordem do STF, oposição e base indicaram representantes, mas na prática comissão não funcionará

BRASÍLIA. Apesar da crise e do embate político, governo e oposição conseguiram ontem um raro consenso. Ambos consideram inoportuna a instalação de novas CPIs no Senado. Os líderes dos partidos decidiram seguir a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e vão indicar os representantes para a CPI dos Bingos, que pretende investigar a relação do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz com empresários de jogos de azar. Mas a comissão não deve sequer ser instalada de fato. A idéia é concentrar esforços na recém-iniciada CPI dos Correios.

Os líderes também acertaram que a investigação sobre o mensalão deve ser restrita à Câmara, em CPI ou outras instâncias. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), ponderou que cada CPI no Senado precisaria de 22 senadores. E que já estão em curso, além da CPI dos Correios, outras duas comissões mistas.

- Sequer temos senadores disponíveis para tanta CPI. A sociedade deseja investigar a fundo a corrupção nos Correios e a suposta existência do mensalão. A partir dessas CPIs, vamos avaliar a necessidade de ter outras. Vamos indicar os representantes e reavaliar a oportunidade. É uma atitude própria do Senado, onde prevalece a racionalidade - afirmou Mercadante.

Tucano diz que oposição não pretende incendiar o país

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disse que a oposição não pretende incendiar o país e está disposta a negociar uma data mais adequada para novas CPIs. Mas, na reunião, houve momentos tensos:

- Se acharem melhor não instalar, o PSDB está aberto. Se quiserem instalar, o PSDB instala uma, duas, 50 CPIs - disse o tucano aos colegas.

Ontem, os líderes indicaram seus representantes na CPI. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que é contrário à participação do Senado na investigação do mensalão proposta pelos deputados como uma CPI mista, mas pretende seguir o rito e marcou sessão do Congresso para quarta-feira, quando lerá o requerimento de criação.

- Não tenho outra coisa a fazer senão manter a coerência com o andamento adotado anteriormente - disse Renan, que discorda da idéia de que as investigações sobre a corrupção podem atrapalhar o funcionamento do Senado.

Legenda da foto: RENAN COM os líderes do Senado: consenso contra CPI dos Bingos