Título: PF vasculha empresa que trabalha para Valério
Autor: Luiz Fernando Rocha e Rafael Gomes
Fonte: O Globo, 24/06/2005, O País, p. 13

Agentes apreendem documentos e computadores na firma que faz a contabilidade da agência de publicitário

BELO HORIZONTE. Agentes da Polícia Federal vasculharam ontem a empresa Prata e Castro Auditores e Consultores Associados S/C Ltda e apreenderam documentos e computadores. A empresa presta serviços contábeis para a agência de publicidade SMP&B., que tem entre seus sócios o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser um dos operadores do mensalão.

A operação foi chefiada pelo delegado Cláudio Ribeiro Santana, de Brasília, para cumprir mandado de busca e apreensão expedido pelo juiz federal Jorge Gustavo Serra de Macedo, da 4ª Vara Federal de Minas Gerais. Santana foi acompanhado pelo delegado federal Domingos Reis, de Minas Gerais.

A Polícia Federal chegou à sede da empresa antes das 8h. Os dois delegados e três agentes ficaram lá até 4h30m, quando saíram com quatro caixas de documentos e as placas de memória de 20 computadores. O delegado Santana não informou se foram encontradas nos documentos provas que possam comprometer Marcos Valério:

- Estamos levando documentos diversos e computadores. Não posso revelar o conteúdo nem a natureza desses documentos, porque o mandado foi expedido sob segredo de justiça. Eles provavelmente serão levados para Brasília, para perícia.

Um funcionário da empresa que não quis se identificar e o advogado, Edimar Pereira Cardoso, que presta assessoria jurídica para a Prata e Castro Associados, foram levados para a Polícia Federal em Belo Horizonte e prestaram esclarecimento aos delegados por quase uma hora. Edimar Cardoso disse que não entendeu o motivo do mandado de busca:

- Nos documentos não há nenhum fato que comprometa a empresa ou qualquer outra pessoa. Vou procurar o juiz que expediu o mandado para pedir autorização para copiar os HDs (memórias), já que a empresa está parada, e devo pedir a ele também que esclareça o motivo da busca. A empresa trabalha apenas eventualmente para Marcos Valério, não tem nenhum envolvimento nessas denúncias.

Cardoso disse que a polícia quis saber o motivo pelo qual a placa de identificação do escritório, que funciona no sexto andar de um centro comercial, havia sido retirada e guardada pelos proprietários. A placa também foi apreendida.

A polícia não revelou os nomes dos proprietários da empresa. Agentes da Polícia Federal estiveram em outros dois edifícios - num deles, funciona a sede da SMP&B - mas saíram sem levar documentos.

Ex-secretária de Valério presta depoimento no MP

A ex-secretária de Valério, Fernanda Karina Ramos Somaggio, prestou depoimento ontem na sede da Procuradoria da República de Minas Gerais. Ela foi ouvida pelo procurador Luiz Fernando Viana, que veio de Brasília. Segundo seu advogado, Rui Pimenta, ela confirmou todas as denúncias sobre o relacionamento de Valério com a cúpula do PT. Ela reafirmou que viu a saída de malas de dinheiro de uma das empresas de Valério, com destino a Brasília.

'Podem quebrar meu sigilo'

Marcos Valério se defende das acusações de Roberto Jefferson

Duas semanas depois de ter sido acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o operador do suposto mensalão pago pelo PT a deputados do PP e do PL, o publicitário Marcos Valério decidiu se defender. Em entrevista ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, ontem, o publicitário negou as denúncias, mas admitiu ser amigo do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Sílvio Pereira. Ele disse que seu sigilo bancário e telefônico estão à disposição para quem quiser investigar:

- Podem quebrar o meu sigilo fiscal e bancário e o das minhas empresas. Todos os meus depósitos e saques têm explicação. Não sou pombo-correio do Delúbio Soares, nem do PT, não opero para ninguém.

O publicitário disse ter provas de que não esteve com Roberto Jefferson na data em que o deputado diz tê-lo encontrado.

- Estava reunindo documentos para provar que, na primeira quinzena de julho de 2004, ele não poderia nunca ter encontrado comigo. Tenho tíquetes de viagem, os hotéis onde me hospedei e o meu passaporte para provar isso - afirmou.

Valério afirmou que visitava Delúbio nas sedes do PT em Brasília e em São Paulo, mas negou a afirmação da ex-secretária, Fernanda Karina Somaggio, de que conversaria diariamente com Dirceu.

- Sou amigo do Delúbio e nunca escondi isso. Sempre encontrei com ele em público. Não sou amigo de Dirceu, não conheço o presidente Lula. Nunca falei com Dirceu pelo meu celular nem diariamente. Isso se comprova na hora que meu sigilo telefônico for quebrado.

Sobre os contratos de publicidade com o governo, Valério afirmou que ganhou uma única conta na atual gestão, a dos Correios. Ele acusou a ex-secretária de mentir em suas entrevistas ao dizer que via malas de dinheiro saindo das empresas.

- Minha agência não é de esquina não. A SMP&B é conduzida por pessoas sérias, de mercado. Nunca as minhas empresas tiveram nada com malas, nem de dinheiro nem de documentos.

O publicitário confirmou que abriu empresas em nome de funcionários, mas disse que passou tudo para o seu nome e o de sua mulher e ainda que declarou no Imposto de Renda. Sobre a relação com o ex-ministro Pimenta da Veiga, disse que apenas contratou seus serviços advocatícios. Para o ex-ministro Anderson Adauto, afirmou que preparou um estudo gráfico para a campanha do irmão dele, candidato a prefeito de Uberaba. Disse desconhecer o irmão de Adauto e que ele foi à empresa apenas para pegar o tal trabalho. Para o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), confirmou ter feito a campanha para sua eleição à Câmara dos Deputados e ter recebido do PT pelo trabalho três parcelas de R$50 mil.

Legenda da foto: AGENTES RETIRAM caixas com documentos e placas de memória de computadores da sede da empresa