Título: HORAS DE AFLIÇÃO NO RIO
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 24/06/2005, O Mundo, p. 30

Mulher quer ir à República Dominicana ficar com marido O pior já passou. Esse é o sentimento da mulher do tenente Nelson Leoni, a fisioterapeuta Érika Cristina Leoni, que ontem passou o dia todo ao telefone no apartamento do casal, num condomínio de classe média em Vila Valqueire. Ela já conseguiu ouvir a voz dele, enquanto conversava com um amigo que o acompanha no hospital, na República Dominicana. Érika admitiu que, ao permitir que o marido integrasse a missão no Haiti, evitou pensar nos perigos que ele corria e revelou que, passado o susto, agora dá mais valor à vida. Por isso o convencerá a deixar o Rio assim que voltar. - Já fui vítima de um seqüestro aqui, ano passado, já fomos assaltados. Não quero mais correr riscos. Planejamos ter um filho em dois anos, vamos buscar um lugar tranqüilo. Talvez nos mudemos para Santa Catarina, onde vive a família dele - cogitou. As primeiras horas depois que soube do que aconteceu com Nelson, anteontem, foram terríveis, relembrou Érika. Até saber que ele havia sido atendido num hospital militar argentino no Haiti e, depois, transferido para a República Dominicana, onde foi operado, um turbilhão de sentimentos ruins a dominou: - Fiquei sem chão. Não consigo me imaginar sem ele. Estou à base de calmantes. Tenho mantido contato constante com os oficiais brasileiros aqui no Rio, no Haiti e na República Dominicana e também com os pais dele. A mãe mora no Rio, e o pai, em Santa Catarina. Eles também estão mais aliviados. Érika é carioca. Nelson, catarinense. Ele vive há três anos aqui. Ao fazer um curso de pára-quedista, precisou de um fisioterapeuta, e Érika foi indicada. O romance resultou no casamento, em setembro do ano passado. De acordo com ela, Nelson já tinha sido sondado para integrar forças de paz da ONU. Depois do que ocorreu, ela afirma que não permitirá que ele se arrisque em outras zonas de conflito: - Agora só quero falar com ele e vê-lo pela internet, como costumava fazer. Consegui apenas escutá-lo à distância, o fio do telefone de lá não chegava até a cama. Nelson ainda não pode se mexer. Mas ele é muito forte, vai se recuperar em breve. Pedi ao Exército para ir até a República Dominicana ficar com ele. Estão analisando meu pedido. Ela elogiou a maneira como o Exército prestou socorro a Nelson e, agora, a mantém em contato com ele. - A equipe toda que ele comandava naquela missão, os soldados, os médicos, todos são excelentes. Ele foi rapidamente socorrido. Agora seus superiores, no Rio e no Haiti, me mantêm informada de tudo. Espero que ele não fique com seqüelas. Mas só saberemos dentro de três semanas se Nelson recuperará totalmente os movimentos dos dedos e do braço - afirmou.