Título: ATA DO COPOM: JUROS CONTINUARÃO ALTOS
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 24/06/2005, Economia, p. 24

BC ressalta recuo da inflação mas teme elevação do valor do petróleo

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) sinalizou ontem que manterá os juros básicos (Taxa Selic) em 19,75% ao ano por "um período suficientemente longo" para colocar a inflação dentro das metas de 5,1% este ano e de 4,5% em 2006. Segundo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a seqüência de nove altas nos juros pôde terminar na semana passada graças à queda da inflação de maio e à melhora no mercado internacional. O único risco está nas cotações do petróleo, que subiram US$5 entre as reuniões do Copom de maio e junho. Ainda assim, o BC espera estabilidade dos preços da gasolina em 2005.

"O Comitê avaliou que a perspectiva de manutenção da taxa de juros básica por um período suficientemente longo de tempo no nível estabelecido em maio já seria capaz de proporcionar condições adequadas para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, não havendo, portanto, necessidade de prosseguir com o processo de ajuste iniciado na reunião de setembro de 2004", diz a ata.

Os diretores do BC ressaltaram três pontos que permitiram a manutenção dos juros. A expectativa de inflação em 2005 caiu de 6,4% para 6,2%. O IPCA registrou queda expressiva, de 0,87% em abril para 0,49% em maio. Por último, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) mostrou desaceleração no primeiro trimestre e reduziu o risco de pressão sobre os preços.

Mas, apesar do pé no freio, o BC aposta na retomada do crescimento nos próximos trimestres, sinalizando que o nível mais baixo de atividade teria ficado para trás. De acordo com a ata, as exportações puxaram o crescimento de 0,3% entre o último trimestre de 2004 e o começo de 2005.

Segundo a ata do Copom, o mercado interno perdeu dinamismo. Os investimentos caíram 3% de janeiro a março, registrando recuo em dois trimestres consecutivos. Além disso, o consumo das famílias diminuiu depois de crescer em todo o ano de 2004. Na indústria, analisa o Copom, pode estar ocorrendo uma mudança no perfil do crescimento, com os bens de consumo duráveis (carros, eletrodomésticos), mais sensíveis ao crédito, perdendo espaço para os setores de matéria-prima, mais sensíveis à renda.

Quanto aos riscos para a inflação, o maior deles vem da gasolina. Segundo a ata, houve queda do petróleo de março a maio, mas as cotações voltaram a subir, e a incerteza do BC aumentou nas últimas semanas. "É importante assinalar que esse aspecto (petróleo) mais desfavorável do quadro externo passou a representar um risco maior para a trajetória futura da inflação", diz a ata.

O BC estima que os preços da gasolina e do botijão de gás não vão subir este ano. Nas tarifas públicas, o Copom manteve sua projeção em 2005 para energia elétrica (10,8%) e para telefonia fixa (8,6%).