Título: IPCA-15 surpreende e cai para 0,12%, o mais baixo desde julho de 2003
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 24/06/2005, Economia, p. 24
Queda nos preços de alimentos e bebidas foi uma das principais influências
Numa queda mais forte do que esperavam os analistas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), divulgado ontem pelo IBGE, caiu para 0,12% em junho. Em maio, a taxa foi de 0,83%. Desde julho de 2003 não se via um IPCA-15 tão baixo. Contribuíram para a queda a valorização do câmbio, o fim dos efeitos da estiagem, o repasse da redução de preços do atacado para o varejo e o preço dos combustíveis.
Um dos principais responsáveis pela queda do IPCA-15 foi a variação do grupo Alimentação e Bebidas, que passou de 0,84% para 0,04%. Destaque para os preços de açúcar cristal (-5,1%), hortaliças (-5%) e frutas (-4,34%). Apenas três das 11 regiões pesquisadas mostraram aumento nos preços dos alimentos: Recife (0,97%), São Paulo (0,33%) e Salvador (0,19%).
Litro do álcool ficou, em média, 9,51% mais barato
- Em especial, legumes e verduras se beneficiaram com o clima favorável, garantindo preços em queda. O IPCA-15 também sentiu reflexos do preço do álcool - disse Luiz Roberto Cunha, economista da PUC-RJ.
O litro do álcool foi responsável pelo principal impacto individual negativo no mês: ficou, em média, 9,51% mais barato. O preço chegou a cair 17,78% em Curitiba. Houve alta somente em Belém (1,50%). Já no litro da gasolina, a queda média foi de 1,29%. Goiânia foi a região onde a baixa foi mais forte, de 4,97%; mas houve alta em Salvador (4,18%) e Brasília (2,12%).
Segundo João Gomes, economista do Instituto Fecomércio/RJ, a desaceleração do índice deve prosseguir nos próximos meses. Para o IPCA de junho, ele prevê inflação zero:
- Esse quadro traz mais argumentos para que o Banco Central baixe os juros básicos (Taxa Selic). Mas isso só deve se dar em setembro.
A previsão da Mellon Global Investments é de que o IPCA de junho feche em 0,03%, uma estimativa que foi alterada ontem: antes da divulgação do IPCA-15 esperava-se uma inflação de 0,10% a 0,15%.
- A inflação corrente está em queda forte - disse Solange Srour, economista-chefe da Mellon, que acredita que o BC reduza os juros em 0,5 ponto percentual em agosto, podendo, para ela, o ano fechar com uma Selic de 17,5% ou 17% ao ano.
Solange lembra que, no período da coleta do IPCA-15, não houve reajustes expressivos nos preços administrados, o que ajudou no resultado do mês. Algumas tarifas serão, no entanto, reajustadas em julho.
- Por isso, esperamos um IPCA de 0,50%. O que, no entanto, não altera a tendência de baixa. E, com isso, já se caminha para alcançar a meta de inflação do governo.
Para Cunha a alta em julho também poderá sofrer pressão de alimentos, que já podem ter sentido as benesses do clima:
- Ainda assim não existe mais o forte risco de aceleração. E, por isso, acredito que o IPCA de 12 meses, feche em 6%.
inclui quadro: a trajetória do índice