Título: ULTRACONSERVADOR À FRENTE DO IRÃ
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Fonte: O Globo, 25/06/2005, O Mundo, p. 33
Prefeito de Teerã é eleito presidente com 61% dos votos e impõe dura derrota a reformistas TEERÃ Os eleitores iranianos deram as costas ontem à tendência reformista que marcou o governo nos últimos oito anos. A contagem de 80% do votos indicava que o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, prefeito de Teerã, foi eleito presidente, com 61,5% dos votos, impondo uma dura derrota a seu adversário moderado, o ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani. Analistas previram um endurecimento da política do país em relação ao Ocidente. Assessores de Rafsanjani reconheceram a derrota. Ahmadinejad, de 48 anos, teve o apoio de religiosos e pobres. Seu governo deverá aumentar a influência do regime islâmico, que tem como líder supremo o aiatolá Ali Khamenei e controla as principais instituições do país. Já Rafsanjani teve os votos de uma elite que apostava no caminho trilhado pelo presidente reformista Mohammad Khatami. ¿ Falta contar apenas três milhões de votos, portanto podemos dizer agora que Ahmadinejad ganhou a eleição ¿ disse um funcionário do Ministério do Interior. Desde a Revolução Islâmica (1979), foi a primeira vez que uma eleição presidencial chegou ao segundo turno. No primeiro turno, Rafsanjani teve folgada vantagem sobre Ahmadinejad, que não estava entre os favoritos. Seu crescimento foi atribuído em parte à promessa de dar a iranianos com mais de 18 anos uma ajuda financeira mensal. Seu programa de governo indica claramente um fechamento do país. A doutrina dos religiosos de linha-dura é o modelo com o qual pretende implantar o que chamou de ¿islamismo global¿. Governo denunciou irregularidades O clima tenso da votação contrastou com a relativa tranqüilidade do primeiro turno, sexta-feira passada. Houve denúncias de fraude e de intimidações. O término da votação foi adiado quatro vezes. Durante o dia, analistas chegaram a prever um resultado apertado, considerando-o o mais imprevisível da História do país. Mas à noite a vitória do candidato ultraconservador foi declarada pelo Ministério do Interior. Dominado por reformistas que apóiam Rafsanjani, o ministério informou ter pedido a suspensão da votação em seis postos, devido a irregularidades, como a presença de membros da milícia religiosa Basij, acusada de tentar favorecer Ahmadinejad, seu ex-membro. Mas o ultraconservador Conselho dos Guardiães, que supervisiona as eleições, opôs-se à medida. ¿ Algumas pessoas querem estragar as eleições, mas o Ministério do Interior e o Ministério da Inteligência vão monitorar e não permitirão abusos nestas eleições ¿ afirmou Jahanbaksh Khanjani, porta-voz do Ministério do Interior. Segundo uma fonte do ministério, algumas mulheres foram impedidas de votar no norte de Teerã, reduto de Rafsanjani, por estarem vestidas de maneira imprópria. Eleitores fizeram longas filas em bastiões de Ahmadinejad, como o sul de Teerã e a cidade de Qom. O candidato prometeu dividir a riqueza do petróleo com os iranianos e preservar os ideais da revolução. ¿ Votarei em Ahmadinejad porque ele quer cortar a mão daqueles que estão roubando a riqueza do país ¿ disse Rahmatollah Izadpanah, de 41 anos. Em áreas mais ricas da capital, eleitores de Rafsanjani disseram temer um sistema mais rígido. ¿ Nossa liberdade está em jogo ¿ disse Somayeh, de 23 anos. Ao votar, Rafsanjani, afirmou: ¿ Pretendo assumir um papel político histórico, para pôr fim à dominação do extremismo. Já Ahmadinejad disse: ¿ Será o começo de uma nova era política para a nação iraniana.