Título: JURO AO CONSUMIDOR SUBIU DE 80,4% PARA 96,8%
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 25/06/2005, Economia, p. 29

Alta corresponde ao acumulado no ano. Mesmo assim, volume de empréstimos registrou crescimento de 18,7%

BRASÍLIA. A taxa de juros básica da economia (Selic) parou de subir em junho, mas os estragos no bolso do consumidor, com as nove altas consecutivas, persistem. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), a taxa média cobrada pelos bancos das pessoas físicas em todas as modalidades de crédito, excluído o empréstimo com desconto em folha, subiu quase 17 pontos percentuais em seis meses. A taxa, que era de 80,4% ao ano em dezembro de 2004, fechou o mês passado em 96,8% ¿ a Selic está em 19,75% ao ano.

Apesar disso, o volume de empréstimo pessoal subiu 18,7% este ano e fechou maio em R$134,4 bilhões, dando sinais de que as pessoas não têm medo de se endividar, apesar do custo crescente. Segundo o BC, com a elevação dos financiamentos às pessoas físicas, as operações de crédito do sistema financeiro atingiriam no mês passado R$518,3 bilhões, chegando a 27,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, alerta que estão embutidos na taxa média cobrada das pessoas físicas os juros das financeiras de lojas de departamento, geralmente mais elevados, fato que o consumidor ignora:

¿ O consumidor quer saber apenas se a prestação cabe no orçamento da família.

Só o volume de empréstimo com desconto em folha cresceu R$1,3 bilhão no mês passado, elevando a carteira de R$16,5 bilhões para R$17,8 bilhões ¿ uma alta de 7,6% entre abril e maio e de 120,1% nos últimos 12 meses. Essa é a modalidade de crédito que mais cresce, segundo o relatório do BC, e, num movimento contrário ao das demais linhas, sua taxa média vem caindo desde janeiro, ficando em 35,6% ao ano mês passado.

Já os juros médios cobrados da pessoa física (incluindo crédito consignado) subiram 1,2 ponto percentual, para 65,7% ao ano em maio, o maior patamar desde dezembro de 2003. O aumento no custo do crédito pessoal foi ainda maior: 2,2 pontos percentuais, na comparação com abril.

Dia das Mães contribuiu para a alta das taxas

O spread (diferença entre o custo da captação do dinheiro e o valor cobrado do consumidor) avançou 1,4 ponto percentual, para 46,8% ao ano em maio, o maior desde abril do ano passado. Em contrapartida, a taxa do cheque especial ficou estável, em 147,6% ao ano.

Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC, disse que o Dia das Mães teve influência na alta dos juros ao consumidor em maio. Nessa época, as pessoas acabam usando linhas de crédito mais caras para comprar presentes.

¿ O Dia das Mães faz com que as famílias busquem crédito com taxas mais elevadas, e o aumento dessas operações eleva a taxa média para pessoa física ¿ disse Lopes.

Ele explicou que o volume de crédito para empresas caiu em maio devido à liquidação do Banco Santos, que tinha uma carteira de R$1,9 bilhão. Mas os juros para este segmento subiram 0,4 ponto percentual em maio, para 33,7% ao ano. A liquidação do Santos fez também com que a taxa média de inadimplência caísse para 7,4%.