Título: RECONSTRUÇÃO PÓS-TSUNAMI ESTÁ MUITO LENTA
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 25/06/2005, O Mundo, p. 34

ONU estima em 10 anos tempo necessário. Em Indonésia, Sri Lanka, Tailândia e Índia, milhares vivem em barracas

PEQUIM. As estimativas mais otimistas sobre a reconstrução asiática pós-tsunami falam em cinco anos, mas como nem tudo anda no mesmo ritmo nos 11 países afetados, há quem aposte em até 10 anos de obras, como indicam estudos conjuntos do Banco Mundial (Bird) e do Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA) e a ONU.

Os dados são desiguais e variam ao sabor do país diretamente afetado ou da instituição de ajuda, mas em todos, o trabalho de reconstrução realizado até agora pouco avançou. Para se ter uma idéia, o governo do Sri Lanka informou, no dia 15 de maio, que das 77.561 casas previstas no programa para a costa leste, apenas 119 haviam sido feitas. Ontem, Colombo disse que vai dividir os US$3 bilhões a que terá direito com os separatistas do grupo Tigres da Libertação Tamil, que dominam parte do país.

Mesmo em países que foram afetados em muito menor escala na região, como a Malásia, os trabalhos podem andar devagar, quase parando. No vilarejo de Kampung Sungai Muda, que celebrava um festival quando as ondas chegaram, ninguém viu até agora a ajuda internacional ou do próprio governo. Em entrevista à rede de TV inglesa BBC, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, disse: ¿Estamos satisfeitos com o ritmo dos trabalhos, mas concordamos que existem pessoas que precisam de apoio.¿

Em Indonésia, Sri Lanka, Tailândia e Índia, milhares de pessoas ainda vivem em barracas. Faltam empregos para os trabalhadores de fábricas e plantações foram destruídas. Mas a ajuda internacional de governos e ONGs dá a alívio a situações dramáticas. Em Banda Aceh, na Indonésia, os dirigentes do Unicef conseguiram coordenar com o governo a construção de 200 escolas de ensino básico provisórias. Emirados Árabes doaram 200 barcos a pescadores

Na cidade tailandesa de Khao Phi Lai, 200 barcos foram doados pelo governo dos Emirados Árabes para a comunidade de pescadores que perdeu tudo no desastre. No campo de desabrigados do Sri Lanka, a ONG BasicNeeds oferece apoio psicológico a quem ainda tem pesadelos com as ondas gigantes.

Mas há ainda um caminho enorme a percorrer:

¿Ano passado, antes da tsunami, 5 mil novas casas foram construídas no Sri Lanka. Agora, os sobreviventes no país precisam de quase 100 mil casas. Em Aceh, na Indonésia, 2 mil escolas e 200 mil casas precisam ser construídas. Mesmo os EUA teriam dificuldade em trazer de volta para suas casas um milhão de pessoas em um ano ou dois¿, diz o ex-presidente americano Bill Clinton, representante especial da ONU para a reconstrução pós-tsunami, em artigo no jornal ¿The New York Times¿.

Por enquanto, os governos dos países afetados respiram aliviados com o que deu certo no trabalho de ajuda de emergência às áreas afetadas. A resposta imediata à tragédia, com os primeiros carregamentos de alimentos, roupas, barracas e remédios chegando maciçamente horas depois da destruição, é um bom exemplo. O mesmo pode ser dito do excelente trabalho das equipes de saúde dos governos, em parcerias com ONGs como Médicos sem Fronteiras, no esforço de evitar as epidemias que se temia pudessem ocorrer nas regiões afetadas. Os programas de vacinas foram rápidos e evitou-se o pior. São boas notícias, mas ainda não há nada a comemorar.