Título: Uma manobra quase impossível
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 28/06/2005, O País, p. 3

Líder do governo diz que CPI dos Correios não deve apurar mensalão mas depoimento de Valério é marcado Ogoverno resiste e quer evitar que o suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares da base aliada se transforme no foco principal da CPI dos Correios. Um dia depois de o próprio presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), admitir que a convocação do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza deverá ser antecipada, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que a CPI dos Correios não deve tratar de mensalão: ¿ A CPI dos Correios deve se restringir à denúncia de corrupção nos Correios. Há um consenso entre os líderes do Senado de que a CPI dos Correios vai investigar denúncias relativas aos Correios, os contratos, as licitações. Compra de votos cabe à Corregedoria, ao Conselho de Ética e a uma CPI na Câmara. Quem decide a cassação ou não de deputados é a Câmara. `Só pondo tapa-ouvido nos integrantes¿ Mas será uma tarefa difícil de ser executada pelos partidos da base aliada, já que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), primeiro a denunciar o mensalão, deverá depor na quinta-feira. E Marcos Valério, que deverá depor na próxima semana, além de ser um dos donos da agência de publicidade mineira SMP&B, que tem a conta dos Correios, é apontado por Jefferson e sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio como um dos principais operadores do mensalão. ¿ Será impossível impedir que a CPI dos Correios apure o mensalão. Só pondo tapa-ouvidos nos 32 integrantes. A CPI do Mensalão é uma manobra diversionista, desejada pelo governo para desviar o foco das investigações ¿ disse o líder do PFL, senador Agripino Maia (RN), que também criticou o funcionamento da comissão: ¿ Não podemos permitir que a CPI paralise as demais comissões. A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) tiveram suas reuniões suspensas. Se é tão importante investigar, por que a CPI não funciona às segundas e às sextas? A divulgação pela revista ¿IstoÉ¿ do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrando que duas empresas de Valério sacaram cerca de R$21 milhões em espécie do Banco Rural em dois anos aumentaram a pressão na CPI pela antecipação do depoimento do publicitário. Na semana passada, após nova entrevista de Karina Somaggio confirmando a participação de Valério no esquema do mensalão, a CPI aprovou o requerimento de convocação dele, mas a audiência ainda não havia sido marcada. Delcídio não é o único na base aliada a admitir a necessidade de convocar Valério. O senador Saturnino Braga (PT-RJ), integrante da CPI, também apóia: ¿ Acho importante convocar logo o Valério. Ele se tornou testemunha-chave. Aliados insistem na CPI do Mensalão O líder do PMDB e também titular da CPI, senador Ney Suassuna (PB), prevê dias quentes a partir de quinta-feira: ¿ A comissão vai explodir na quinta com o depoimento de Jefferson. Mas quente mesmo será na próxima semana com o Valério. Ele já terá tido tempo para provar que gastou o dinheiro com gado. Enquanto isso, líderes aliados insistem na instalação da CPI na Câmara para apurar as denúncias de compra de votos desde 1992, que incluem acusações de compra de votos para aprovar a emenda da reeleição no governo Fernando Henrique. Os aliados querem aprovar ainda esta semana o projeto de resolução que permite que a CPI do Mensalão seja instalada imediatamente. A oposição resiste, mas Mercadante crê que a Câmara deverá aprovar hoje a criação da CPI do Mensalão. COLABOROU Demétrio Weber