Título: Divisão se aprofunda no PMDB e resposta a convite de Lula é adiada
Autor: Lydia Medeiros/Maria Lima e Jorge Bastos
Fonte: O Globo, 28/06/2005, O País, p. 4

Partido pode convocar convenção nacional ou reunir conselho político para decidir BRASÍLIA. O PMDB continua dividido diante da proposta do presidente Lula de firmar um pacto de governabilidade para atravessar a crise política. A bancada no Senado deu ontem o primeiro sinal de que quer aceitar o convite do governo. Vinte dos 23 senadores afirmaram, em nota, que os ¿interesses do país devem estar acima de divergências regionais ou eleitorais¿. Mas momentos depois o presidente do partido, Michel Temer, avisou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que a posição majoritária dos governadores e dos diretórios regionais é contra a participação do PMDB em cargos federais. ¿É difícil que as bancadas contrariem governadores¿ Temer já consultou os diretórios de Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio e Bahia. ¿ Acho difícil que as bancadas venham a contrariar uma posição manifestada por sete governadores e pela grande maioria dos diretórios ¿ disse Temer, que ontem à noite discutiu com Renan a realização de uma convenção nacional, ou ainda a reunião do conselho político no próximo sábado, para buscar uma posição oficial. O PMDB paulista foi um dos que formalizaram posição contrária à participação do partido no governo Lula. Quércia: ¿Seria violência aumentar a participação¿ Segundo o presidente do diretório estadual, o ex-governador Orestes Quércia, o partido admite colaborar com o governo no Congresso, mas não aceitará ministérios. ¿ Contemporizamos no caso dos dois ministros que estão no governo (Eunício Oliveira, Comunicações, e Romero Jucá, Previdência) para não dividir o partido. Seria uma violência aumentar essa participação ¿ disse Quércia. Renan admitiu as dificuldades dos governadores no plano regional, mas criticou qualquer reivindicação de apoio do PT ao PMDB nos estados. Segundo ele, o pacto proposto pelo presidente não abrange acordos eleitorais e por isso, esse debate diz respeito ao Congresso. E defende que o PMDB decida logo. ¿ Não há compromisso eleitoral na convocação do presidente. Essa é uma construção parlamentar e a nota da bancada reflete a correlação de forças. O PMDB não pode tremer, não pode ter crise existencial numa hora dessas ¿ afirmou Renan. Segundo o presidente do Senado, hoje não há partido para substituir o PMDB no papel de fiador da governabilidade: ¿ Com o PMDB, o governo já tem maioria precária. Sem o partido, vamos ter como conseqüência a ingovernabilidade, a tragédia econômica e o caos administrativo ¿ previu. O senador José Sarney fez um apelo dramático ao PMDB para que não recuse a proposta do presidente Lula: ¿ A questão já não é mais nem de garantir a governabilidade. É de não deixar o país ingovernável ¿ disse Sarney. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), acredita que a divergência com os governadores pode ser resolvida com base num entendimento com o governo federal e com o PT nos estados. Segundo ele, a aliança deve ser uma ¿via de mão dupla¿: ¿ À medida que o PMDB aceita um pacto de governabilidade em nível federal, como propôs o presidente Lula, isso facilita que o PT local tenha o mesmo gesto nos estados. COLABORARAMDemétrio Weber e Ricardo Galhardo www.oglobo.com.br/pais