Título: MÁRCIO THOMAZ BASTOS: `NÃO ESPEREM HECATOMBE¿
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 28/06/2005, O País, p. 4

Ministro afirma que inquérito já apura saques de R$21 milhões feitos pelas agências de Valério

BRASÍLIA. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou ontem que as investigações da Polícia Federal para apurar as irregularidades nos Correios, no Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB) e as denúncias feitas pela ex-secretária do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza estão avançando. Segundo ele, o inquérito aberto na semana passada em Minas Gerais está investigando inclusive os saques em espécie de cerca de R$21 milhões (entre julho de 2003 e maio deste ano) feitos por duas agências de publicidade de Marcos Valério. O ministro avisou, no entanto, que ninguém deve esperar uma hecatombe ou algo que vá abalar a República.

¿ A PF fez hoje uma operação importantíssima em Manaus, mas vocês não esperem qualquer hecatombe, que não vai ter. Existem três inquéritos na PF, que estão avançando. Um deles, aberto na semana passada para investigar as denúncias da secretária, fazendo um escrutínio amplo sobre toda aquela questão, inclusive sobre esses saques de dinheiro.

No encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, Bastos, a pedido de Lula, fez um relato sobre todas as providências que estão sendo tomadas pelo governo diante das denúncias das últimas semanas. Ele conta que foi o próprio governo que em junho de 2003 tomou a iniciativa de obrigar todos os estabelecimentos bancários de comunicar, ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), saques acima de R$100 mil.

¿ O que eu posso dizer é que o nosso combate à corrupção vem lá de trás. Essa medida que impediu que se fizessem saques de R$100 mil ou mais, sem a comunicação a autoridade competente que é o Coaf, é uma medida deste governo, tomada em 2003.

Eu não faço uma relação de causa-efeito, diz petista

Segundo o ministro, a apuração sobre o pagamento de mesadas a deputados da base aliada tem que ser feita pelas CPIs ou pelo STF. O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que ele e Bastos trataram da votação do referendo sobre o desarmamento e que ele perguntou ao ministro sobre o andamento das investigações da PF.

Ao ser perguntado se os saques feitos pelas empresas de Marcos Valério ¿ acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o operador do pagamento de mesadas a deputados da base aliada ¿ não eram um indício forte de que houve mesmo o mensalão, Chinaglia afirmou:

¿ Eu não faço uma relação de causa-efeito. Evidentemente que chama a atenção, da maneira como foi noticiado, uma série de saques. O próprio ministro informou que a PF abriu inquérito em Minas Gerais. Trabalho com a cautela da investigação, que é para valer.