Título: Governistas evitam antecipação do depoimento de Valério
Autor:
Fonte: O Globo, 29/06/2005, O País, p. 10 e 11

Oposição queria ouvir hoje o publicitário, mas esbarrou na resistência do PT a investigar o mensalão; divergência provocou bate-boca BRASÍLIA. A tentativa da oposição de antecipar para hoje o depoimento do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o responsável pelo pagamento de mesada a deputados do PP e do PL, provocou ontem bate-boca e por pouco não causa uma briga na CPI dos Correios. A oposição não conseguiu trocar os depoimentos de três ex-diretores dos Correios pelo de Valério, e ficou claro o interesse dos petistas de não modificar o calendário da CPI dos Correios, adiando a investigação sobre o mensalão. A oposição pediu a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de Valério e o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), acertou que este e outros requerimentos serão votados na reunião de hoje. A tendência é que o pedido seja aprovado, como admitem até mesmo os petistas. No início da reunião, a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) se exaltou numa discussão sobre o assunto com o deputado pernambucano Maurício Rands (PT). ¿ Pára de gritar e colocar a mão na minha cara! ¿ reagiu Rands para a senadora. Os parlamentares que estavam em volta tiveram de separar os dois. Depois de iniciada a reunião da CPI oficialmente, o debate continuou. O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) foram contra o argumento da oposição ¿ com o qual concorda o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) ¿ de que os depoimentos dos diretores dos Correios serão pouco eficientes hoje, sem a análise prévia dos contratos da estatal, que ainda não chegaram à CPI. Para Bittar, a CPI não pode investigar as denúncias de pagamento de mensalão: ¿ Esta questão não está resolvida. É preciso que os líderes decidam se teremos uma CPI para investigar o mensalão ou não. Não faz sentido anteciparmos o depoimento de Roberto Jefferson ou do senhor Marcos Valério com este argumento. Temos de seguir a nossa linha de investigação ¿ afirmou Bittar. O vice-líder do PSDB na Câmara, Eduardo Paes (RJ), reclamou do fato de ainda não terem chegado à CPI as auditorias feitas nos contratos dos Correios pela Controladoria-Geral da União (CGU). Ele defendeu que a CPI crie uma subcomissão para fazer buscas e apreensões. ¿ A Polícia Federal fez uma operação na casa do tesoureiro do PTB (Emerson Palmieri), mas o do PT, que é citado em todos os depoimentos, não foi alvo ¿ protestou Paes. O presidente da CPI confirmou os depoimentos dos diretores dos Correios. Ele desmarcou, entretanto, o depoimento do genro do deputado Roberto Jefferson, Marcus Vinícius Ferreira, que também seria quinta-feira. Delcídio não havia acertado com os líderes a convocação, que acabou sendo incluída na agenda de depoimentos desta semana. Nos bastidores, a oposição comentava que não queria ver Jefferson prestar depoimento depois de ter passado pelo constrangimento de ver seu genro na CPI. O objetivo dos oposicionistas seria, portanto, deixar o deputado mais à vontade para avançar nas denúncias de pagamento de mesadas a deputados. Com a decisão, Jefferson terá um dia dedicado só para seu depoimento. www.oglobo.com.br/pais