Título: VANDALISMO NO LEBLON
Autor: Cristiane de Cássia e Célia Costa
Fonte: O Globo, 29/06/2005, Rio, p. 15

Moradores da Cruzada queimam ônibus e apedrejam outro em protesto contra morte de rapaz Quem passava ontem à tarde pela Lagoa ficou assustado com uma fumaça negra na altura do Leblon. Era o resultado de um ato de vandalismo incomum na Zona Sul: o incêndio de um ônibus. O veículo foi queimado por um grupo de 20 a 30 jovens que ainda apedrejaram outro ônibus, interrompendo o trânsito na Avenida Borges de Medeiros, esquina com Rua Humberto de Campos, em frente à Cruzada São Sebastião. Segundo moradores do conjunto, a depredação foi um protesto contra a morte do atendente de lanchonete Rodrigo Santos da Conceição, de 19 anos. Parentes e vizinhos acusam policiais que fariam segurança de um clube pela execução. O protesto violento aconteceu às 16h. Segundo testemunhas, o grupo usava camisas nos rostos para dificultar a identificação. Eles apedrejaram um ônibus da Viação Alpha, da linha 415 (Usina-Leblon), e outro da Viação Estrela Azul, linha 434 (Grajaú-Leblon). O ônibus da linha 415 foi invadido por mais de dez rapazes que espalharam tíner e gasolina pelo veículo. O cobrador ficou com a camisa suja de gasolina. ¿ Eles já entraram jogando a gasolina e mandando todo mundo sair ¿ contou o cobrador. Quinze passageiros estavam no ônibus, mas ninguém se feriu. Bombeiros chegaram rapidamente para controlar o fogo. Policiais do 23º BPM (Leblon) foram acionados para reforçar a segurança. O trânsito ficou interrompido naquele trecho por mais de três horas. Acusação a policiais será investigada

Após a depredação, moradores procuraram a imprensa para explicar o motivo da revolta. A causa seria o assassinato de Rodrigo. Segundo vizinhos e parentes, ele chegava do trabalho por volta de 1h de domingo quando foi abordado por dois homens e uma mulher. O trio teria exigido que ele arrecadasse R$5 mil no conjunto, mas o rapaz não conseguiu o dinheiro e desapareceu. O corpo dele foi encontrado horas depois na Praia de Grumari, com várias marcas de tiros. ¿ Foram policiais que o seqüestraram. Eles são do serviço reservado da PM e faziam segurança numa festa no Clube Monte Líbano. Várias pessoas disseram ter visto meu tio, antes de ele desaparecer, com esses policiais. Eles exigiam dinheiro, mas somos pobres e não temos nada a ver com tráfico ¿ diz uma sobrinha da vítima. Vizinhos contaram que outros casos semelhantes aconteceram na comunidade, até com um parente de Rodrigo. Segundo sua sobrinha, ele voltava de uma lanchonete do Bob¿s, em Copacabana, onde trabalhava como atendente, quando foi abordado. Segundo a assessoria do Bob's, o rapaz trabalhava na filial da Rua Domingos Ferreira há três anos e nunca apresentou problemas. Ao chegar ao local, o comandante do 23º BPM (Leblon), tenente-coronel Carlos Mendes, disse desconhecer o que tinha levado ao vandalismo. Ao saber das acusações contra policiais, o oficial afirmou que nenhuma denúncia de desaparecimento com envolvimento policial foi feita ao batalhão. ¿ Está sendo imputada à PM uma responsabilidade de forma estranha. Se este fato aconteceu, a comunidade deveria ter ido ao batalhão ou mesmo denunciado pelo telefone anonimamente, o que não foi feito ¿ alegou o comandante. O desaparecimento foi registrado domingo na 14ª DP (Leblon), mas na ocasião não foi feita qualquer acusação contra policiais. O secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, determinou ao delegado Alberto Lage que o crime seja investigado com o máximo de empenho. Ele também determinou a abertura de inquérito para identificar os envolvidos nos atos de vandalismo. O vice-presidente do Clube Monte Líbano, Carlos Gandara, ficou surpreso com a denúncia de que policiais seriam seguranças do clube. Ele disse que os vigias são funcionários há mais de cinco anos e nenhum é policial. Gandara explicou que, em casos de festas particulares no clube, o organizador pode contratar seguranças. Para isso, o clube indica três empresas conhecidas e que, segundo ele, não trabalham com policiais. http://oglobo.globo.com/rio