Título: A IMPORTÂNCIA DO `MADE IN BRÉSIL¿
Autor: SÉRGIO AMARAL
Fonte: O Globo, 28/06/2005, Opinião, p. 7

Oano cultural do Brasil na França está oferecendo uma oportunidade valiosa para a promoção da imagem de qualidade do produto brasileiro. Não é apenas o fato de o nome de nosso país estar associado a exposições, festivais de cinema, manifestações de música e de dança de alta qualidade, realizados nos espaços culturais mais renomados da França. É igualmente a presença de produtos brasileiros em lojas de departamentos prestigiosas, tais como o Printemps (em abril) e as Galerias Lafayette (em junho). Mais de trinta lojas destas duas grandes cadeias mostram e vendem em seus balcões a moda de nossos estilistas, o design de nossos móveis, jóias e cosméticos.

A venda de produtos brasileiros em cadeias de distribuição de prestígio é um grande avanço. O Brasil expandiu consideravelmente as suas exportações. Somos hoje um dos países mais competitivos num grande número dos itens de nossa pauta de exportações.

O professor Hubert Drouvot, da Universidade de Grenoble, na França, acaba de publicar um livro sobre a indústria brasileira na era da globalização que contém interessantes observações sobre a construção da marca-país. As percepções sobre o país de origem de um produto influenciam as decisões do consumidor e poderão induzir uma preferência por certos bens (perfume francês, calçado italiano, carro alemão) em detrimento de outros. Verifica-se mesmo uma certa correlação entre o nível de desenvolvimento e a confiança no produto. O resultado é que bens de igual qualidade muitas vezes terão de ser vendidos a preços menores ou com garantias maiores do que aqueles produzidos em países desenvolvidos.

A pesquisa realizada pela Universidade de Grenoble sobre a percepção do made in Brésil por parte dos consumidores franceses, apesar de a amostragem ser limitada (estudantes universitários e funcionários superiores), oferece informações relevantes, ainda que não surpreendentes. Os produtos brasileiros são vistos em geral como de primeira necessidade, fabricados com a utilização de tecnologias um pouco ultrapassadas. Seu preço é considerado baixo e justo. O Brasil não é percebido como uma economia de produção em massa, nem integrada aos canais de distribuição mundial. Os consumidores têm pouco orgulho em usar produtos brasileiros, pois as marcas são pouco conhecidas e a publicidade é modesta. O perfil do consumidor é de jovens e mulheres de classe média ou classe média baixa. Se os mais bem informados sabem que o Brasil detém indústrias de ponta, a maioria das respostas evoca a produção de matérias-primas.

A imagem do Brasil se aproxima daquela da China, que apresenta traços ainda mais fortes em termos de percepção de preços baixos, tradição de imitação e baixo orgulho na utilização. E se afasta consideravelmente das avaliações relativas a países como a Itália e a França e mais ainda os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão.

A despeito dos esforços de comunicação mais intensos em anos recentes, o Brasil ainda é percebido como o país do café, do carnaval e do futebol. No plano industrial, dois setores chamam a atenção: o vestuário e o agroalimentar. É relevante notar que a percepção de nosso país, ainda que deformada e desatualizada, é revestida de uma conotação positiva e simpática, o que faz crer que o esforço de comunicação tenderá a surtir bons efeitos.

Drouvot se refere à pesquisa encomendada pela Abicalçados e pela Apex sobre a percepção do sapato brasileiro no mercado francês. Relata que a pesquisa teve dificuldades em alcançar resultados conclusivos, pois a maioria desconhecia que o Brasil é um importante exportador de calçados.

O livro de Drouvot, assim como outros estudos, mostra que o Brasil não tem um problema de imagem, pois a percepção é em geral positiva.

Na verdade, o problema está num déficit de conhecimento. Este déficit só será corrigido mediante uma ação efetiva e continuada de informação e de construção de nossas marcas, tanto a do país quanto a de nossas empresas. Um trabalho para mostrar que, além da música, das praias e do futebol, temos um povo criativo e trabalhador, uma tecnologia avançada, uma responsabilidade empresarial. Manifestações culturais, como a do ¿Ano do Brasil¿, cumprem o importante papel de ampliar o nível de conhecimento sobre o que somos e para associar uma imagem de qualidade ao que fazemos.

SÉRGIO AMARAL é embaixador do Brasil na França.