Título: ALÍVIO NA CONTA DO SUPERMERCADO
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 28/06/2005, Economia, p. 21

Produtos como óleo de soja, cenoura, arroz e açúcar estão até 52% mais baratos Os consumidores já estão encontrando nas prateleiras dos supermercados o que os últimos índices de inflação vêm registrando no atacado: uma trégua nos reajustes de preços de alimentos. Produtos como óleo de soja, cenoura, arroz, batata, tomate e açúcar estão até 52% mais baratos do que em abril, em conseqüência do repasse das quedas do atacado para o varejo, do início de novas safras e da valorização do real frente ao dólar. Um alívio no bolso que, segundo analistas, deve se manter nos próximos meses. ¿ Com a desaceleração dos preços dos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, que é referência para o sistema de metas de inflação do governo) de junho deve ficar em zero. No entanto, os preços administrados, como as tarifas de telefonia, devem puxar essa inflação para 0,50% em julho ¿ prevê o economista João Gomes, do Instituto Fecomércio. No Prezunic, o quilo da alcatra custava R$5,70 e passou para R$5,25 (-7,9%), e o óleo de soja Liza foi de R$1,89 para R$1,56 (-17,5%). No Guanabara, os consumidores encontram feijão preto Máximo a R$2,38 (17% mais barato do que em abril), açúcar União por R$0,89 (-33%) e cenoura a R$0,77 (-52,17%). Já no Princesa, o pacote de cinco quilos do arroz Carreteiro custa R$5,79 (-27,6%) ¿ em maio saía por volta de R$8. E nas Sendas, o preço do arroz Camil caiu de R$11,14 para R$8,99 (-19,3%). ¿ O arroz já registrou uma queda de 50% no ano e o óleo de soja, de cerca de 30%. Os preços devem se manter nesses patamares ¿ afirma Márcio Millan, diretor do Grupo Pão de Açúcar.

Preço de material de limpeza cai timidamente Novas safras estão garantindo preços mais atraentes de frutas e hortaliças. O quilo da maçã argentina, por exemplo, custa R$2,48 até domingo, no Hortifruti ¿ 37,7% menos do que há duas semanas, quando saía por R$3,98. Nos próximos dias, a caixinha do morango está a R$2,48 (R$0,50 mais barata) e o quilo da batata inglesa, que antes saía por R$1,78, é vendido por R$ 0,98 até domingo (-44,9%). ¿ O consumidor ainda pode esperar por mais baixas. Em um mês, o morango deve custar R$1,98 e a tangerina poncã, hoje a R$0,98, pode chegar a R$0,78 ¿ espera Adailson Franco, subencarregado do Hortifruti. A dona de casa Patrícia Monteiro já percebeu as quedas de preços em alguns artigos. Tanto que passou a escolher produtos da estação. Em vez de uva, ela está dando preferência à maçã argentina e à tangerina: ¿ Gasto cerca de R$100 por mês com frutas, legumes e verduras. Se souber escolher, levo mais itens para casa. O economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica ainda que há mais espaço para queda de preços no varejo, o que favorecerá as próximas apurações de Índices Gerais de Preços (IGPs): ¿ Ainda há espaço para mais repasses de baixas de preços do atacado para o varejo. O macarrão, por exemplo, é um dos artigos que vêm apresentando desaceleração e pode cair mais. Por isso, se o cenário se mantiver como agora, o único ponto de pressão será a telefonia fixa, que terá impacto nos índices de julho. Segundo Gomes, do Instituto Fecomércio, essa tendência já tem sido registrada na cesta de compras da entidade. Pelo índice, na última semana de maio, a cesta subiu 0,19%. Já na primeira semana de junho, teve variação negativa de 0,60%. Na semana seguinte, de 0,73%. E na terceira, de 0,38%. José de Souza, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, também reforça que os alimentos não são o calcanhar-de-aquiles da inflação: ¿ A inflação não sofre pressão dos alimentos, que devem manter esses preços em baixa por, ao menos, 60 dias. Mesmo artigos que poderiam puxar os índices, como leite, laticínios e carne, estão ajudando o governo. São os preços administrados que causam a inflação. A queda de preços também vem aparecendo, mais timidamente, em produtos de limpeza e cuidados pessoais. No Guanabara, o sabão em pó Omo Multiação custa R$5,75, contra R$5,89 em meados de abril (-2,38%). O preço do detergente Limpol caiu de R$1,08 para R$0,95 (-12%). No Mundial, há oferta de papel higiênico Neve por R$2,36, contra os R$2,89 cobrados em abril (-18,34%). As prévias de inflação em junho divulgadas nos últimos dias provocaram a sexta queda semanal da projeção do IPCA em 2005. A pesquisa Focus do Banco Central (BC), com cem analistas de mercado, mostra redução de 6,16% para 6,05% na previsão do IPCA este ano. Este movimento deve-se à revisão de 0,3% para 0,17% na estimativa do índice para este mês. O comportamento do IPCA serve de base para o Comitê Política Monetária do BC definir a taxa básica de juros, que subiu de setembro de 2004 a maio passado e, este mês, foi mantida em 19,75% ao ano, com a desaceleração da inflação. O governo trabalha com uma meta central de 5,1% em 2005, mas há uma margem de erro que permite uma inflação de até 7% este ano.