Título: ESTUPRADA APELA À CORTE SUPREMA
Autor:
Fonte: O Globo, 28/06/2005, O Mundo, p. 26

Paquistanesa foi violada por ordens de um conselho tribal de anciãos

ISLAMABAD. Uma mulher paquistanesa estuprada há três anos por ordem de um conselho de anciãos apelou ontem à Suprema Corte do país contra a absolvição de cinco de seus seis atacantes, originalmente condenados à morte.

¿ Eu espero a mesma decisão dada pela Corte Especial ¿ afirmou Mukhtaran Mai, de 36 anos, antes do início de seu depoimento à Suprema Corte, referindo-se à condenação dos homens.

Seis homens foram inicialmente condenados à morte pelo estupro, mas cinco deles acabaram sendo absolvidos depois de apelarem da decisão a uma corte na província de Punjab sob a alegação de falta de provas. O sexto homem teve a pena capital comutada por prisão perpétua.

Em 2002, o conselho de anciãos do vilarejo de Meerwala decidiu que um irmão de Mai, na época com 12 anos, tinha ofendido a honra de um poderoso clã local ao namorar uma mulher da tribo. Como castigo pela ofensa, ordenaram o estupro de Mai.

O ataque provocou comoção nacional e internacional, ao chamar a atenção para o tratamento dispensado às mulheres nas áreas rurais do Paquistão. O próprio presidente Pervez Musharraf, que tenta apresentar o Paquistão internacionalmente como um país moderado e progressista, disse que o caso macula a imagem da nação no exterior.

Governo confiscou passaporte de Mai

O advogado de Mai, Aitzaz Ahsan, disse ontem que há ¿provas substanciais¿ a corroborar a acusação contra os homens.

¿ Ao absolver os homens, a corte avaliou mal as provas ¿ afirmou o advogado. ¿ Temos um caso sólido. Não queremos prolongar essa situação. Queremos que a Suprema Corte volte a avaliar as provas e faça seu julgamento com base nelas.

Três juízes da Suprema Corte debateram ontem questões processuais antes de dar início à tomada de depoimentos. A sessão será retomada hoje.

Grupos de defensores dos direitos humanos queriam levar Mai para o exterior, onde ela poderia denunciar o tratamento concedido a mulheres no seu país. Mas o governo, sob a alegação de estar agindo para garantir sua segurança, confiscou seu passaporte, impedindo-a de viajar. Depois de vários protestos, inclusive do governo americano, Mai teve seu passaporte de volta.