Título: AMIGOS, AMIGOS, NEGÓCIO FECHADO
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 26/06/2005, O País, p. 3

Valério ganhou conta de R$24 milhões de banco que era presidido por colega

BRASÍLIA. O publicitário mineiro Marcos Valério, apontado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o homem da mala do mensalão, soube fazer rapidamente amigos influentes no governo. Além de citar com freqüência o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, Valério costumava impressionar seus interlocutores apresentando-se como amigo de um segundo personagem: Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, subsidiária do Banco do Brasil. Valério, Delúbio e Ivan Guimarães eram vistos freqüentemente no café da manhã do Hotel Blue Tree, de Brasília.

A amizade de Valério e Guimarães não foi impedimento ético para que a DNA, empresa do publicitário, ganhasse a conta do Banco Popular do Brasil. De agosto a dezembro do ano passado, o gasto com publicidade do Banco Popular atingiu R$24 milhões, número superior ao gasto com as operações de crédito, que atingiram R$20 milhões.

A DNA é uma das três agências que atendem o Banco do Brasil, selecionadas por licitação. Após a concorrência, ela acabou sendo escolhida numa votação aberta e informal feita por diretores e executivos do Banco do Brasil e do Banco Popular. Mas, segundo relato de dirigentes do BB, foi fundamental a opinião do consultor James Rubio. Rubio tinha forte ligação com Ivan Guimarães.

Os gastos do Banco Popular chegaram a ser questionado no início do ano pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Guimarães teve que dar explicações na Comissão de Assuntos Econômicos, do Senado, em março. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), tentou evitar a convocação. Chamou Tasso e Guimarães para uma conversa informal, num encontro tenso.

Um mês depois, Guimarães deixou o governo e a publicidade do Banco Popular foi suspensa, com a chegada do novo presidente da instituição, Geraldo Magela.

Guimarães admitiu a amizade com Valério mas negou que tenha favorecido o publicitário:

- Eu me considero amigo de Valério. Não vejo impedimento ético na nossa amizade. A DNA é uma agência que ganhou licitação.

A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informa que a escolha da DNA para fazer a publicidade do Banco Popular teve a aprovação do Conselho Diretor do BB.

Legenda da foto: IVAN GUIMARÃES, ex-presidente do Banco Popular