Título: GUSHIKEN COMEÇA A PERDER PODER
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 26/06/2005, O País, p. 4

Hoje sua atuação está mais restrita à área administrativa

BRASÍLIA. Nas últimas semanas, o secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, passa mais tempo no Palácio do Planalto do que despachando em seu gabinete, no bloco A da Esplanada dos Ministérios. Com a eclosão do escândalo dos Correios, o ministro conversa diariamente com o presidente sobre medidas e ações de governo capazes de dar uma resposta à crise. Mas sua atuação hoje está mais restrita a questões administrativas e de comunicação do que a debates e decisões políticas.

O ministro, que foi um dos coordenadores da equipe de transição e é um amigo antigo de Lula, está trabalhando ativamente na proposta de reforma administrativa, que vai enxugar o Ministério e desidratar o número de cargos de confiança do governo. Gushiken foi um dos que, apesar de seus desmentidos, trabalharam ativamente pela saída de José Dirceu da Casa Civil. Também teve uma dura conversa com o presidente do PT, José Genoino, sugerindo o afastamento do tesoureiro, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Silvio Pereira, da cúpula do partido.

Empenhado em tentar tirar o governo do canto do ringue, Gushiken nem sempre acerta quando atua na área política. O ministro participou, no início deste mês, de uma decisão desastrada. Num almoço em que estavam ele, Jaques Wagner, Antonio Palocci e Márcio Thomaz Bastos, foi proposto que o presidente Lula adotasse a reforma política como prioridade.

Lula chegou a anunciar a criação de uma comissão do Executivo, coordenada pelo ministro da Justiça, para apresentar uma proposta de reforma ao Congresso. Mas a reação do Congresso, onde outras propostas de reforma estão sendo discutidas há dois anos, foi péssima e a comissão foi enterrada antes de começar a trabalhar.

Transformado em alvo da oposição, após o depoimento do funcionário dos Correios Maurício Marinho, Gushiken nega que tenha ingerência sobre os contratos de publicidade celebrados pelas empresas estatais. Sua assessoria diz que a centralização das verbas de publicidade, aprovada no governo Lula, refere-se apenas aos recursos da administração direta. E argumenta que essa proposta técnica foi elaborada pela Secretaria de Comunicação (Secom) ainda no governo Fernando Henrique com o objetivo de dar maior unidade à publicidade institucional e às de utilidade pública.

Quanto à ligação de Gushiken com os fundos de pensão de bancos e empresas estatais, sua assessoria informa que quem deve ter alguma ingerência sobre decisões de investimento dos fundos é o Ministério da Fazenda.

Gushiken pode se transformar num dos próximo alvos da oposição na CPI dos Correios. Por enquanto, o ministro pretende manter-se discreto e atuando apenas nas questões administrativas. (Ilimar Franco)

Legenda da foto: GUSHIKEN: um dos que atuaram pela saída de Dirceu