Título: Um novo time por trás da 'mão estendida' por Lula à oposição
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 26/06/2005, O País, p. 4

Presidente se cerca de novos conselheiros em busca de diálogo e se afasta do PT

BRASÍLIA. Um novo grupo de conselheiros e articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está emergindo da maior crise política que o governo petista enfrenta nestes dois anos e meio de gestão. As mudanças não se restringem às pessoas, mas também à orientação política. O presidente Lula quer dar adeus ao clima de guerra que marcou suas relações com a oposição. E busca o entendimento com o grupo em torno de propostas que sejam de interesse do país.

A nova linha já está em curso. Ao mesmo tempo que afastou o polêmico José Dirceu da Casa Civil, Lula despachou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em missão de paz junto a líderes da oposição. No dia 14 de junho, um dia antes da saída de Dirceu, o ministro da Justiça jantou com um dos líderes da oposição, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). No dia 21 de junho, um dia antes do discurso que marcou o retorno de Dirceu à Câmara, Bastos teve longa conversa por telefone com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB).

Esta foi a forma que Lula encontrou para se desvincular de eventuais arroubos de seu ex-ministro. No pronunciamento que fez em rede nacional de rádio e TV, na quinta-feira, sua nova disposição foi enfatizada quando disse que seu governo está aberto a todos e com a mão estendida:

- Acima de interesses particulares está o interesse nacional, a preservação e o aperfeiçoamento das instituições. Esse é o sentido maior que exige o espírito de colaboração, a mão estendida, mesmo na diversidade de opiniões... São esses os propósitos do meu governo, que estará sempre aberto para todos aqueles que estão buscando, verdadeiramente, o bem do nosso país e do povo brasileiro.

"Com Dirceu era impossível"

Este também foi o discurso que Bastos fez há 12 dias na conversa com Antonio Carlos. O ministro queria organizar um encontro entre o senador baiano, o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), e saber como a oposição poderia ajudar o governo. Antonio Carlos respondeu dizendo que havia disposição para o diálogo, mas que isto não poderia ser feito agora, sob pena de eles serem desmoralizados. Disse que era preciso esperar a tormenta passar e envolver neste diálogo todo o PFL, a começar pelo seu presidente, o senador Jorge Bornhausen (SC), um dos mais ácidos críticos do governo.

- Lula queria a saída de Dirceu para mandar um sinal para a oposição. Com Dirceu no governo era impossível buscar o entendimento com o PSDB e o PFL do Jorge - diz Antonio Carlos.

A conversa com Serra foi na mesma direção e a disposição do tucano foi a mesma. Mas este também ponderou que era preciso baixar a poeira, antes que se faça qualquer gesto em direção ao diálogo por uma pauta de temas relevantes. O tucano estava preocupado em conter o acirramento dos ânimos e confiante que é possível que governo e oposição voltem a ter uma agenda comum, a exemplo das reformas da Previdência e tributária no primeiro ano do governo Lula.

- Conversei com o Antonio Carlos e com o Serra. Comecei a conversa por eles por causa de nossa amizade. Há condições de diálogo mais para a frente. Agora não, pois este é um momento em que as pessoas não podem capitular - afirma Bastos.

Além de Bastos, que tem sido presença constante no gabinete de Lula, nas últimas semanas participam do grupo restrito de conselheiros do presidente Lula o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, e o governador do Acre, Jorge Viana (PT). Para estes, o que está em jogo neste momento é a preservação do governo e do presidente Lula. Nas conversas com estas pessoas é que Lula se convenceu de que precisa enxugar a máquina, reduzir o tamanho do PT no governo e retomar o diálogo com a oposição.

- Não existe uma crise no governo, o que existe é um problema político. O povo nos deu o poder mas não nos deu maioria no Congresso. E para que a política não contamine o governo o caminho é o da formação de maiorias pontuais, em cima de uma agenda com propostas que atendam a interesses comuns - diz Jorge Viana.

Lula se afasta da direção do PT

Ao eleger Márcio Thomaz Bastos, Jorge Viana, Antonio Palocci e Gilberto Carvalho como seus principais conselheiros, o presidente Lula se afastou da direção do PT, que se sente a cada dia mais alijada do centro de decisões. O seu único elo de influência sobre o presidente se rompeu com a demissão de José Dirceu. Para tentar restaurar sua influência é que o PT tenta reverter a decisão de acabar com o Ministério da Coordenação Política.

O partido agora defende não apenas a saída do ministro Aldo Rebelo, mas também a manutenção da Coordenação e a escalação de um petista para a tarefa. O nome preferido é o do ministro Jaques Wagner, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que na última quarta-feira fez questão de se colocar em sintonia com os novos tempos ao comparecer à festa de São João patrocinada pelo senador José Jorge (PFL-BA), com dezenas de pefelistas e tucanos espalhados pelo salão.

- Fui várias vezes convidado para vir aqui, mas a minha agenda não permitiu que viesse nos anos anteriores - conta Jaques Wagner.

Legenda da foto: AO PÉ DO OUVIDO: Thomaz Bastos conversa com Lula durante visita a uma fábrica da GM, em março