Título: Reduzir o Estado
Autor:
Fonte: O Globo, 26/06/2005, Opinião, p. 6

Como em momentos semelhantes no passado, o país poderá sair desta crise política melhor do que entrou. Na hecatombe do governo Collor, a sociedade avançou na conscientização sobre a necessidade de se separar os interesses do Estado dos negócios privados.

Na esteira do escândalo dos anões - a máfia de deputados que manipulava as emendas ao Orçamento em proveito das próprias contas bancárias - tomaram-se medidas para moralizar o encaminhamento desses pleitos. Além do que, a opinião pública tornou-se mais atenta a certos desvãos existentes no Congresso.

Não há por que não esperar que também desta vez - com o mensalão e sua ligação com a tomada de assalto de setores da administração direta e cargos em estatais por esquemas políticos - a sociedade venha a aprender lições. E que haja aperfeiçoamentos na legislação para evitar esses desvios do dinheiro público.

O debate sobre o que fazer, no entanto, precisa considerar um fator primordial nesta crise política: o tamanho do Estado e a excessiva proliferação dos chamados cargos de confiança - estima-se em cerca de 20 mil - que nada mais têm sido do que moedas para trocas fisiológicas de interesses entre partidos e o Executivo federal.

O escândalo presta um favor ao país ao expor essa teia existente na máquina pública, pela qual a política se degrada e vira negócio escuso. Como a fonte de alimentação de caixas dois e mensalões está, por óbvio, nesses cargos da administração direta e estatais, é evidente que a maneira mais eficiente de se combater a corrupção é reduzir ou eliminar os espaços de ação do corrupto, por meio de uma reforma que reduza o tamanho do Estado.