Título: Tragédia petista
Autor: RICARDO MARIATH
Fonte: O Globo, 26/06/2005, Opinião, p. 6

O primeiro ano do governo (2003) começa com alguns fatos inusitados, como o caso da expulsão dos quadros do partido (PT) de figuras que cobravam do governo o cumprimento de suas bandeiras históricas. Em seguida, tem-se a badalada reforma da Previdência, onde sepulta-se a garantia previdenciária dos trabalhadores.

O ano de 2004 inicia-se com o caso Waldomiro, aquele dos bingos. Em resposta ao caso, o governo edita uma medida provisória contra os bingos e jogos de azar em geral, que da noite para o dia são postos na ilegalidade. Tal MP dura até o início da discussão para a eleição na Câmara e no Senado, onde o governo tenta violar a Constituição para promover a reeleição de seus sustentáculos nessas casas, João Paulo Cunha e José Sarney.

Somam-se a esses episódios os casos onde "companheiros" de partido do presidente, abertamente, criticam os rumos do governo, o "fogo amigo", e as declarações do vice-presidente, que, invertendo os papéis, anda pregando tudo aquilo que se esperava do governo Lula.

Ainda ocorre o caso da suspensão do visto do jornalista americano. Passados esses acontecimentos, chegamos ao ano pré-(re)eleitoral de 2005. O governo só pensa na reeleição e usa a máquina para promover um palanque eleitoral para o chefe-mor.

Até que suscitam as denúncias de corrupção nos Correios e vem à tona o esquema do mensalão. Que fazer? (parafraseando o "companheiro" Lênin). Para acabar com a crise que se instalou, basta acabar com o foco da mesma, diga-se José Dirceu! Qual crise, no atual governo, não tem seu dedo ou respinga nele?! Quando não é alguém que ele dá aval que cria a crise, são suas declarações inoportunas, sua postura e etc.

O problema do PT no governo é o que Max Weber, sociólogo alemão, em "Ciência e política: duas vocações", dizia ser o grande mal do homem político. A saber, o afastar de si mesmo, a vaidade. Vaidade também no que tange aos "superegos" dos que estão ao lado de Lula no governo. Toda a prepotência e arrogância dos "oráculos" petistas mostra-se vã.

Quanto mais o Partido dos Trabalhadores se afasta de suas bandeiras e posições históricas, mais vai assentando sua (vã) glória de poder sobre pilares falsos. A tragédia petista chega aludir à tragédia de Sófocles, Édipo Rei. Mas não pelo incesto e sim por remeter à tragédia de um poder que se pretende absoluto e cai por terra, cego e condenado ao ostracismo.

Para um partido que tem um projeto político hegemônico e que quer se manter no poder após o pleito de 2006, muita coisa tem que mudar. E rápido!

RICARDO MARIATH é cientista político.

Algo precisa ser feito, e rápido, para salvar projeto de poder