Título: Correios: CPI vai investigar participação da Abin
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 26/06/2005, O País, p. 14

Parlamentares já sabem que maleta usada por ex-araponga para fazer gravação é ]exclusiva dos serviços secretos

BRASÍLIA. Enquanto ouve esta semana o depoimento de três envolvidos na gravação do pagamento de propina nos Correios, a CPI criada para apurar irregularidades na estatal vai começar a apurar também o papel da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no caso. A direção da agência já admitiu ter investigado as denúncias de corrupção nos Correios, mas parlamentares que integram a CPI vão investigar a participação do ex-araponga Jairo Martins no episódio.

Jairo, o advogado Joel dos Santos Filho, que foi aos Correios gravar Marinho, e o consultor e ex-militar Arlindo Molina devem ser ouvidos pela CPI na terça-feira. Jairo, cabo da Polícia Militar do Distrito Federal licenciado, trabalhou entre 1993 e 2001 no setor de operações da Abin. Segundo seu depoimento na Polícia Federal, foi colega de Edgar Lange Filho, o agente de codinome Alemão destacado pela Abin para se infiltrar nos Correios.

Araponga já tinha usado a maleta

Os parlamentares vão começar a investigar o assunto pela maleta usada na gravação. A comissão já recebeu informações de que o tipo de equipamento usado, por ser sofisticado, costuma estar disponível apenas na Abin, na Polícia Federal e nas seções de inteligência das polícias. Além disso, para importar este tipo de equipamento seria necessária autorização do Ministério da Justiça. Investigar a maleta deve ser o primeiro passo dos parlamentares para tentar descobrir se o grupo que gravou a conversa com Marinho tinha interesses diferentes dos da empresa de Arthur Waschek, a Coman.

- Se essa mala precisa de autorização oficial para ser comprada, de quem é? Precisamos investigar - diz um integrante da CPI dos Correios.

A comissão tem informações de que Jairo já teria usado um equipamento similar, que seria da Abin, em outras operações. Em seu depoimento na PF, o ex-agente da Abin informou que foi trabalhar na agência por indicação do coronel do Exército Loureiro e que seu pai Ailton Souza, trabalhou por 33 anos no Centro de Inteligência do Exército.

A CPI pretende descobrir quando começou a investigação oficial da Abin. Para a comissão, está claro que o grupo que gravou e divulgou a fita não tinha como objetivo apenas atender os interesses comerciais de Waschek, que se sentia prejudicado por Marinho em seus negócios nos Correios.

Petista suspeita de chantagem

As ligações entre Molina e Roberto Jefferson também devem ser investigadas. Molina, amigo de Waschek, foi o responsável por levar a gravação ao deputado. Para o deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), tratava-se de chantagem: Waschek estaria negociando com Jefferson a substituição de Maurício Marinho nos Correios e uma ajuda para sua empresa.

A comissão ainda quer saber como a fita chegou à revista "Veja", que detonou o escândalo. Segundo Waschek, Jairo teria cometido uma traição. A gravação foi feita por Joel, que já tinha ajudado Waschek a vencer concorrentes em dois outros episódios. Teria sido Joel quem desmontou esquemas que impediam Waschek de ganhar licitações em São Paulo e no Distrito Federal.

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