Título: A primeira-dama da CPI
Autor: Adriana Vasconcelos e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 26/06/2005, O País, p. 16

Mulher de Delcídio conduz com mão-de-ferro rotina do marido

BRASÍLIA. "Nada de comer misto quente. Nós vamos é almoçar direito". A ordem foi dada na última quarta-feira a um dos homens mais poderosos do momento, o líder do PT e presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (MS). E não partiu de um superior, mas de alguém com muita autoridade para tirá-lo de uma tensa reunião: sua mulher, Maika do Amaral Gomes.

Primeiro, Maika telefonou a Delcídio e avisou que o aguardava no restaurante do Senado. Ele não apareceu e ela foi à luta. Interceptou-o pendurado ao celular, livrou-o dos assessores e conseguiu manter sua atenção por mais de uma hora, em meio ao conturbado depoimento de Maurício Marinho, ex-diretor dos Correios flagrado cobrando propina. O casal comeu bacalhau e até teve tranqüilidade para degustar uma taça de vinho do Porto.

- Ele só quer comer sanduíche e sair correndo. Assim, no fim da CPI fico sem marido - justificou Maika, de 43 anos.

No primeiro dia de funcionamento da CPI, Maika mostrara seus poderes. O relógio passava das 23h30m quando ela decidiu que era hora de encerrar os trabalhos. Só não interveio de fato porque o deputado Maurício Rands (PT-PE) propôs a suspensão da audiência.

A dedicação de Maika ao marido tem sido integral. Empresária, dona de duas franquias de lojas de roupa masculina e infantil, em Campo Grande e em Florianópolis, ela deixou os negócios de lado. Na semana anterior, delegou à sua gerente a tarefa de acompanhar o Fashion Rio.

- Fiquei preocupada com tanta pressão e não quis deixá-lo sozinho - contou.

Delcídio confirma o desvelo da companheira, com quem tem duas filhas, Maria Eduarda e Maria Eugenia.

- Ela disse que vou ficar igual ao Pepe, nosso cachorro: magreeeelo...

Sexta-feira à tarde, depois de uma semana intensa, Maika estava mais que disposta a tirar Delcídio de Brasília. Havia uma fila de jornalistas no gabinete do senador, mas ela não se intimidou em anunciar a agenda do marido.

- Temos um casamento em São Paulo. Vou para o hotel agora. Se você não aparecer, entro no avião e vou embora - ameaçou.

Delcídio nem discutiu:

- Pode deixar, pode deixar.

Os planos de Maika, além da festa, incluíam alguns passeios para "aliviar a tensão":

- Vou levar ele para a Daslu.

Legenda da foto: MAIKA E DELCÍDIO no restaurante do Senado: "Nada de misto quente. Vamos almoçar direito"