Título: NEGÓCIOS COM CHINA AINDA ESTÃO NA PROMESSA
Autor: Gilberto Scofield
Fonte: O Globo, 26/06/2005, Economia, p. 34

Um ano após a visita oficial do presidente Lula, investimento e abertura de mercado caminham lentamente

PEQUIM. Há pouco mais de um ano, o presidente Lula foi à China, na maior missão da história do Brasil (mais de 200 pessoas), e proclamou uma nova era nas relações entre os países: mais trocas comerciais, culturais e pelo menos US$4 bilhões em investimentos chineses em infra-estrutura no Brasil. As promessas foram confirmadas com igual estardalhaço na visita feita pelo presidente chinês, Hu Jintao, ao Brasil. Mas hoje, passada a euforia diplomática, o avanço nas relações extracomerciais foi pequeno e no caso de investimentos, nenhum.

E o pior: devido a alegados prejuízos comerciais em determinadas áreas, o Brasil acena agora com sobretaxas às exportações chinesas, num episódio que fez o ministro do Comércio da China, Bo Xilai, afirmar: "Estou chocado com a notícia e lamento a decisão brasileira".

Setor privado avança mais rapidamente

Parte disso pode ser creditada, diz o embaixador do Brasil na China, Luiz Augusto de Castro Neves, à natureza cautelosa e demorada das negociações na China e, em menor grau, "à certa falta de rapidez do Brasil em fazer seu dever de casa":

- Os chineses querem investir no Brasil, especialmente em projetos de infra-estrutura. Mas o projeto das Parcerias Público-Privadas (PPP), que vai estimular investimentos estrangeiros, precisa de regulamentação e só agora o governo editou uma medida provisória que viabilizará projetos como a siderúrgica de US$1 bilhão que a Baosteel e a Vale do Rio Doce querem fazer no Maranhão.

Mas a China não tem pressa em se aproximar. Dois projetos anunciados oficialmente - a abertura do mercado chinês para a carne bovina e de frango brasileira e a classificação do Brasil como país de destino turístico autorizado pela China - ainda não se concretizaram.

No caso da carne, técnicos do Ministério da Agricultura dos dois países já trocaram visitas. Apenas cinco frigoríficos que já exportam para a China foram certificados e o restante deve ser liberado a curto prazo, com base na promessa de o Brasil fiscalizar as condições de higiene dos abatedouros.

No turismo, os dois países estão agora apresentando suas listas de agências credenciadas a fazer a recepção dos turistas de ambos os lados, uma exigência da China. Segundo o Ministério do Turismo, cerca de cem mil chineses podem visitar anualmente o Brasil até 2007.

Os negócios privados caminham mais rapidamente. Além do investimento de US$30 milhões para a duplicação da fábrica da Embraco em Pequim, iniciada em março, a indústria de motores Weg, de Santa Catarina, comprou uma empresa perto de Xangai e a Tramontina deve abrir este ano uma fábrica de ferramentas de mão no país.

O comércio bilateral cresceu muito ano passado. Segundo o Ministério do Desenvolvimento do Brasil, o volume em 2004 chegou a US$9,15 bilhões, um aumento de 36,9% em relação a 2003. A China é hoje o terceiro maior parceiro comercial do país, mas o superávit brasileiro ano passado, de US$1,7 bilhão, caiu 27,3% em relação aos US$2,3 bilhões de 2003.

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Legenda da foto: LULA CUMPRIMENTA Hu Jintao durante a visita histórica à China: compromisso de comércio e investimento