Título: SÃO R$50 MILHÕES SOB SUSPEITA
Autor: Adriana Vasconcelos e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 30/06/2005, O País, p. 3

Relatório do Coaf mostra movimentações maior de empresas de Valério

BRASÍLIA. Relatório reservado do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informa que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza movimentou mais de R$50 milhões nos últimos anos em condições, aparentemente, fora do padrão. O documento, que pode complicar ainda mais a situação do publicitário, foi encaminhado à CPI dos Correios, que ontem quebrou o sigilo de Valério e hoje decidirá se quebra o sigilo de suas empresas. Com isso, sobe para mais de R$70 milhões o valor movimentado por Marcos Valério de forma considerada suspeita pelas autoridades.

O publicitário foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB, como um dos operadores do suposto mensalão pago pelo PT a parlamentares da base aliada do governo. Ontem, o publicitário prestou depoimento por mais de oito horas à Polícia Federal no inquérito aberto a partir das denúncias de Jefferson e Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério. Karina também acusou Valério de distribuir dinheiro em hotéis em Brasília.

Empresas sacaram R$20,9 milhões

O primeiro relatório do Coaf, já tornado público, revela que as agências de publicidade DNA Propaganda e SMP&B Comunicações, duas das empresas de Valério, fizeram saques de R$20,9 milhões em espécie entre 2003 e 2004. O novo levantamento, em poder da CPI e do Ministério Público, indica que empresas de Valério fizeram movimentações bem superiores.

- É muito mais que o dobro desse valor já anunciado. É muito dinheiro - disse uma das autoridades do governo Lula que tiveram acesso ao documento.

A informação já chegou ao presidente Lula. Ele e o restrito círculo de colaboradores que se formou desde o início da crise estão convictos de que o mensalão foi um factóide lançado por Jefferson para dificultar as investigações sobre o suposto esquema de fraudes de apadrinhados do deputado em estatais. Entre integrantes do grupo predomina a idéia de que o deputado usou a palavra mensalão para ampliar o impacto de possíveis transferências financeiras entre partidos.

- Até agora não há nenhuma prova clara da existência do mensalão. O que deve ter havido é a circulação de dinheiro de campanha de um partido para outro ou para outros fins, que não se sabe quais são - disse um interlocutor do presidente.

Caixa de campanha estaria por trás

Dentro do governo também há a convicção de que Roberto Jefferson decidiu atacar o PT porque a cúpula petista teria deixado de honrar o acordo ou pelo menos parte do trato de ajuda financeira que fizera com o ex-presidente do PTB. O caldo entornou depois que a revista "Veja" divulgou uma reportagem sobre uma suposta mesada de R$400 mil que aliados do deputado estavam cobrando do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) para um suposto caixa dois do PTB. A PF abriu inquérito para investigar o caso.

- Ele viu que estava caindo e, de repente, decidiu atacar outras pessoas. E até que está sendo bem sucedido - afirmou um dos auxiliares de Lula.

Para Lula e seus auxiliares diretos é inaceitável que o PT perca para outros partidos a bandeira de combate à corrupção, uma das prioridades do partido em todos os seus programas de governo.

Legenda da foto: MAURÍCIO RANDS (em pé) observa Delcídio Amaral e ACM Neto na sessão da CPI